UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PELO NORDESTE –
Há quase um ano, ainda envolvido com algumas polêmicas que apontavam para um destino duvidoso da política cultural, fui içado tecnicamente para outro campo de atuação. Surgiam dali as primeiras evidências de que um enorme desafio estava por vir. Refiro-me ao convite que logo recebi para exercer a Presidência da Fundação Joaquim Nabuco.
Minha participação nas discussões anteriores que retiraram a Cultura do atrelamento à Educação foi o primeiro sintoma da aproximação com o grupo técnico que tratava desse setor. Somaram-se também as minhas experiências como professor e pesquisador, além da evidência maior que tive como gestor cultural, nas esferas pública e privada. Parece-me que esse mix técnico foi bem aquilo que o grupo de Educação esperava encontrar. E, além do mais, estar arraigado aos valores e sentimentos que traduziam o Recife, de Joaquim Nabuco e Gilberto Freyre.
Há, porém, dois outros valores que mereceram de mim a tradução daquele convite como algo que pudesse, em contrapartida, ceder em troca. O primeiro se traduziu em ofício de gratidão. O segundo foi a certeza de um exercício de compromisso.
Sobre a gratidão, por mais que esse atributo seja para mim um valor intrínseco, irrevogável e indelével, peço licença para ir além do trivial, pois me sinto compelido aqui a fazer um registro público que, certamente, poucos sabem ou se perceberam, não lhe deram o devido mérito. Falo aqui do Ex-ministro Ricardo Vélez, não só pela autoria exclusiva do crédito a mim concedido, ou mesmo, da forma elegante e respeitosa que sempre teve no trato das questões institucionais. Quero aqui destacar o seu profundo respeito pela Fundação Joaquim Nabuco em si, sobretudo, pelo conhecimento do pensamento dos seus patronos: Nabuco e Freyre. De fato, o ministro Vélez me surpreendeu com o seu profundo conhecimento sobre as duas maiores personalidades de Pernambuco, de sorte que dele recebi todo apoio para planejar não só os 70 anos da Fundação, mas os 170 e 120 anos, respectivamente, de Nabuco e Freyre.
Mas, é sobre a questão institucional que gostaria de dar a ênfase maior desse texto, justamente, como consequência do apoio que recebi para resgatar a instituição e, a partir daí, traçar um plano de recuperação da imagem da Fundação nas suas três áreas: pesquisa, ensino e cultura. Naturalmente, que apesar do curto espaço de tempo, com o apoio da equipe e o diálogo franco e transparente que pratiquei com os servidores, pude plantar essa semente.
E não poderia ser diferente que esse plano exercesse um olhar diferente para o Nordeste. Foi daí que numa postura sugestiva de operar com outros pares do Governo Federal, a Fundação não perdesse seu papel de protagonista de uma política de desenvolvimento regional que mirasse por novas prioridades. Pesou para mim o lado de economista, ao apontar pela necessidade de se rever práticas das políticas públicas. E sem perder de vista que a própria Fundação teria que se ajustar a esse novo contexto. Questões essenciais como a gestão da água, a efetividade da politica educacional na região e o incentivo às vocações econômicas regionais seriam as linhas precípuas. Daí, a proposta de trabalho articulado com a SUDENE, o BNB e próprio FNDE, esta como instituição coligada à mesma órbita da Educação.
O Nordeste continua carente desse trabalho articulado e focado, justamente a partir das prioridades que farão seu desenvolvimento ser uma meta alcançável. É preciso tirar isso do papel e arregaçar as mangas para tal desafio. E a Fundação Joaquim Nabuco tem nessa engrenagem um papel que lhe garante a importância institucional necessária à sua longevidade.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco