UM OLHAR PARA SI MESMA –

Quando uma circunstância nos leva à caixa das fotografias guardadas, como que proposital, para somente rebuscá-las tempos depois, esperamos nos divertir com os trajes, os penteados, os adornos e a uma série de surpresa, tipo: “como eu era magra”. Ou seja, nos fixamos apenas no visual.

Esquecemo-nos de analisar o que mudou na forma de pensar, de agir, de evoluir no ver, ouvir e falar. No aprender a amar, no entender o outro, no compartilhar emoções, enfim, no viver.

Em algum momento, seremos tomados de nostalgia, não pelo simples fato de o tempo ter passado, mas, como passamos por esse tempo que, então, era tão incerto e inesperado.

Pois bem, a amiga poetisa Gleide Tomaz, tomada de sobressalto, deu de cara com ela mesma numa fotografia que repousava na gaveta e, cheia de emoção contemplou além das aparências relembrando o caminho de então, até o reencontro.

Dela recebi essa “intimidade” de reflexão:

“Desculpe a qualidade da foto. Antiga e recortada. Mas não vou deixar de partilhar mesmo assim. Missa de formatura, 22 anos de idade. Olhei para essa foto e me deu uma melancólica saudade de mim. O olhar, o sorriso me chamou atenção. Olhei como se não fosse eu. Essa menina tem o olhar de quem não faz ideia do quão dura, quão incoerente e quão injusta pode ser a vida. De quão árduo é o caminhar, cheio de escolhas e a cada escolha uma renúncia. Que bom que parte dessa menina sobreviveu, que ainda há um traço desse olhar na mulher, hoje madura, que ainda acredita, que também há suavidade, que também há beleza e principalmente que há esperança na estrada da vida. Que ainda há músicas que ao serem tocadas, fazem sinos soarem e borboletas voarem, celebrando a transformação. Foi bom te ver de novo menina. Foi bom olhar os teus olhos, olhar teu sorriso e ter saudades de ti. Foi bom saber que ainda te encontro aqui.”

Convidei-me a refletir, agora com as minhas antigas fotografias, esse tempo que certamente não saberemos aquilatar a precisão e a certeza de como cada um dos eventos influenciaram nosso estado emocional, mas que, mesmo assim, possibilita avaliar e comparar com o “eu” de hoje.

Certamente o “peso” dado a cada fase de nossa vida é singular. Cada sentimento, cada condição de ocorrência esteve associada a um custo emocional e, como a querida poetisa Gleide Tomaz, também poderemos expressar: “Foi bom saber que ainda te encontro aqui”.

Talvez não estejamos mais guardando as fotos atuais, até por serem mais raras, na mesma caixa que abriga a ‘comunhão de tempos’ vividos com sabores e até dissabores, de instantes presentes que foram se tornando, pacientemente, em um tempo, apenas, de lembranças.

Que tal você também revisitar a sua caixa de fotografias?

Ah, elas estão em álbuns!?

Feche a porta do seu quarto e com reverência a cada momento que foi clicado, vá sorrindo, gargalhando até, relembrando o quanto você, ali, era autêntico e amado como nunca você imaginou.

Não se preocupe com o que acha, fez ou o que deixou de fazer. Nada é perdido quando a nossa alma é capaz de perceber “Que ainda há músicas que ao serem tocadas, fazem sinos soarem e borboletas voarem, celebrando a transformação”.

Sorria! Você não está sendo fotografado.

Você já está ali, revelado nas suas emoções!

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *