UM POUCO A RESPEITO DE HOMENAGENS EM VIDA… –
O amigo músico, blogueiro, escritor e apresentador televisivo potiguar Nelson Freire, sabendo de que eu estava numa lista de homenageados culturalmente, pela Fundação José Augusto, agora em 2018, pediu-me gentilmente um texto para seu blog, de sucesso midiático comprovado.
De então, pensei logo na temática das homenagens em vida que são prestadas, com raras exceções. Poderia destacar algumas histórias ouvidas ou lidas, no decorrer de minha vida. Particularmente, sou daqueles, que apreciam e aplaudem as poucas iniciativas em vida, quando tomo conhecimento de amigos e amigas homenageados, (as). O saudoso amigo escritor baiano Ático Vilas Boas da Motta (1928-2016) , que em vida, tramou muitas homenagens a mim prestadas, principalmente em seu Estado natal, dizia-me não aprovar as homenagens, ditas póstumas e contava-me que certas pessoas, diziam sobre os ilustres literatos e artistas mortos:
– Está morto mesmo? Então, comecemos a organizar as suas homenagens!
O mestre folclorista e amigo Veríssimo de Melo, (1921-1996), gostava-me de sempre contar sobre ele e outros amigos, que foram homenageados em vida. Dizia-me sempre com seu humor característico: “Só quem não gosta e não comparece são os desafetos…”. Mestre Vivi, um dia, contou-me de uma homenagem inusitada prestada ao grande folclorista Câmara Cascudo, (1898-1986), em vida, pelo amigo engenheiro e boêmio Roberto Freire, (1915-1971), quando o escritor chega de navio ao Rio de Janeiro e percebe perplexo, uma banda de músicos o acompanhando. Cascudo para e não vê nenhuma autoridade perto de si e desconfiado, avista próximo tal banda, a figura amiga de Roberto, dando gargalhadas: “Essa presepada só podia ser coisa sua!”. E o grande presepeiro do bem, teria respondido ao amigo homenageado: “Aos bons amigos, a recepção em vida, tem que ser com uma banda de músicos, em suas chegadas”. E por falar em Cascudo, este já teria recebido outra grande homenagem em vida, de parte do amigo jornalista Assis Chateubriand (1892-1968), que lhe proporcionara a oportuna viagem de pesquisa a África, resultando na valiosa obra, sobre a alimentação no Brasil. E Cascudo era adepto fervoroso da ‘intriga do bem’, entre as amizades, para reciprocamente espalharem as possíveis homenagens em vida!
No meu caso, aqui não caberia espaço, para enumerar às vezes em que tive que representar o nosso RN, em congressos e seminários, com a ajuda de muitos amigos. Eles sabem, o quanto lhes sou grato. Dona Estela, (1925-1998) minha genitora, repetia cotidianamente ao seu filho caçula, que o pior dos defeitos, era a ingratidão. Quantas vezes, com pouco dinheiro no bolso, ouvi da recepção de alguns hotéis: “ Seu amigo, fulano de tal, já efetuou o pagamento de sua estadia”. Quantas vezes tive que sair dos hotéis, para casas e apartamentos das boas amizades. A saudosa amiga historiadora Consuelo Pondé de Sena, quando sabia de minha chegada em Salvador, BA, colocava-me seu automóvel e motorista particular a minha disposição. Eu ficava até sem jeito, pois era apenas um simples sócio do Instituto Histórico da Bahia, que por lá estava, para minhas pesquisas e ela a então presidente e amiga sempre gentil, que adorava homenagear os seus amigos e amigas, com todas as altas comendas da ‘intriga do bem’ e do ‘ acarajé baiano’…
Lembro-me nesta oportunidade, de dois aniversários meus passados. Em um deles, recebi o belo poema do mestre e amigo Deífilo Gurgel, (1926-2012) – ‘Ribeira Velha de Guerra’, a mim dedicado. O amigo areabranquense era grande em tudo. Folclorista, amigo e também grande poeta… Em outro ano, sou chamado á casa do pintor e amigo Dorian Gray Caldas, (1930-2017), para receber de presente, do próprio, um belíssimo quadro a óleo, que hoje, entre outros, dão prova, das homenagens e honrarias recebidas em vida de inúmeros amigos e amigas artistas. A galeria dos afetos…
Teria ainda muito o que contar a minha pequena neta Maria Estela, sobre as verdadeiras amizades, as intrigas do bem e as justas e merecidas homenagens em vida de muitos que presenciei ao longo de quase sessenta primaveras. Algumas destas, recebidas pelo velho avô materno. De Pendências a feira do Alecrim…
Mas vou me despedindo por aqui com essa prosa comprida, parecendo até coisa, de quem bebeu água de chocalho ao nascer.
Mês de dezembro de 2018, mês dedicado as Santas, Luzia das grandes amizades mossoroenses e Nossa Senhora do Ó, padroeira da terra da paz, que escolhi para viver, (Nísia Floresta). Mês dos natalícios dos geniais Câmara Cascudo e Luiz Gonzaga, (1912-1989). Agora finalizando, bato o martelo, plagiando o amigo fraterno Nelson Freire, que entre outros, escolheu-me para dedicatória, em uma de suas excelentes obras literárias publicadas e sempre consultadas… “Quem souber que conte outras!”.
Gutenberg Costa – Escritor, pesquisador e folclorista – Presidente da Comissão de Folclore do RN.