UM PRÍNCIPE NO INFERNO –

O poder judiciário italiano está fazendo a revisão, com pedido de anulação, da sentença que condenou Danti Alighieri à morte. A ação processual é proposta por um descendente, astrofísico Sperello Alighieri. O advogado do feito é o professor de Direito Processual Penal Alessandro Traversi.

O autor da “Divina Comédia” fora penalizado pelos “guelfos”, partidários do Papa Bonifácio VIII, apenas por ser “gibelino”, sob acusação de corrupção administrativa. O Poeta e os seus partidários pregavam a limitação dos poderes papais. Por isso, foi exilado e seria levado à fogueira se voltasse à Florença. Na condenação havia ainda uma pesada multa de cinco mil florins.

Durante uma temporada em Florença, encantei-me com a Basílica de Santa Croce, decorada com obras de Giotto Brunelleschi e Luca della Robbia. No mausoléu, estão os restos mortais de grandes mestres italianos como Michelangelo e Maquiavel.

A tumba preparada para Dante está vazia. É que Ravena, cidade de Dante, recusou-se a devolver os restos mortais do poeta à cidade que o condenara.

Na frente da igreja, uma colossal estátua, com o oferecimento absolutamente sintético e imponente: “A Dante Alighieri L’Itália”. É o país inteiro que o homenageia.

Todos sabemos que a “Divina Comédia” é obra-mestra universal, canto épico e teológico. Escrito em dialeto toscano, tornou-se base da língua italiana. Os dantistas preservam o fascínio e a beleza da obra de sete séculos. Dentre os primeiros estão Marco Lucchesi (sua tradução é uma “declaração de amor”) e Jorge Vanderlei.

A invenção poética é composta por inferno, purgatório e paraíso. No inferno, é ressaltada pela presença do Papa referido. Inocêncio era um homem partidário, irado, guerreiro. Diz-se que havia forçado o seu antecessor Celestino V a renunciar. Sentia-se confortável em amaldiçoar, excomungar, inclusive o imperador Filipe VI da França. Era Príncipe, mas anunciava a supremacia do seu poder sobre o dos reis.

O Canto XXVII da Comédia qualifica “O grande padre”, tirano, raposa. Nele, o Papa confessa ter sido das armas, e mesmo franciscano não se corrigiu.

Sendo um príncipe, tornou-se fariseu em guerra não contra sarracenos ou judeus, seus inimigos eram cristãos.

A Itália e muitos países celebram os setecentos anos de um dos gênios toscanos.

Certamente, a mais singular homenagem é chamada: “Dante entre as estrelas”. Um exemplar da “Divina Comédia”, elaborado em metal, titânio e ouro, será literalmente lançado no espaço da Estação Espacial Internacional.

De onde estiver, talvez, esse Papa poderá ver o livro que o condenara girando em redor da terra.

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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