UM RETORNO AO PASSADO –
Lançando os olhos no passado e numa visão contemplativa dos dias de hoje, frases, termos, costumes, usos e imagens que fizeram parte de um universo vocabular, representam os acontecimentos de uma época que não está muito distante.
Era o espírito de comunicação entre as pessoas no tempo dos nossos avós, reminiscências, as vezes lembradas em reuniões com os amigos.
Reporto-me a estes saudosos instantes: assistir aos filhos de Capitão América, Patrulheiro Rodoviário, Bat Masterson, Roy Rogers, o Zorro, Rock Lane, Buck Jones, Doris Day, Virginia Lane, novelas de Jerônimo – O Herói do Sertão, O Direito de Nascer, beber Grapette, leite de onça em assustados, queimado (vermute com aguardente), samba em Berlim (Coca-Cola mais aguardente), meladinha (aguardente com mel), chupar drops, dançar twist, yê-yê. Dizer frases: pedaço de mau caminho, quebrar a tigela, cair na boca do povo, contado é do dia, chegar-se as boas, pisa na fulô e amasse, passando para não enganchar, ir decretado, ou oito ou oitenta, falar de papo cheio, pegar uma ponta, tomar tenência, tomar chegada, nem lhe conto, escreveu não leu…, estar corrido da justiça, fechar o corpo, época em que Adão era cadete, não assistiu ao dilúvio, mas ainda pisou na lama; dizer termos – abecar, afuturar, bafafá, bodega, cabimento, cangapé, chaboque, catombo, cotoco, derna, doença do mundo (sífilis), esprivitada, escacel, enturricado, entica, fuchico, faniquito, goga, garapa, gaitada, interado, joça, jururu, lazarino, lamborada, linheiro, lorota, leso, muganga, madorna, mucumbú, queda de asa, passamento, pau da venta, papouco, pereba, pinicar, queiro (dente siso), rebolo, roncha, ramo de vento, sambudo, tábua do queixo, tinhoso, toco, um-um, xodó, xamego, zanóio, zeiro; dormir em cama patente com selo azul; estudar latim e canto orfeônico no ginasial, existir o doutor da família; fumar cigarro Iolanda, Continental e Astória; fazer o corso no carnaval, comparecer aos bailes carnavalescos, usar lança perfume Rodoro e cantar músicas como jardineira, a lá lá ô, couro de gato, sapo não lava o pé, nega do cabelo duro; ler a revista O Cruzeiro, Almanaque Capivarol, Moura Brasil; ouvir em radiola de madeira e baquelite long-plaings contendo interpretações de Augusto Calheiros, Ângela Maria, Carlos Galhardo, Carmem Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva, Roberto Carlos; novelas, Jerônimo o herói do sertão e o direito de nascer, repórter esso; possuir geladeira Kelvinator; Carros Austin, Dauphile, Vemaguete, Candango, Aero Willys, Chevrolet cara branca; bicicleta pneu balão; passear de lambreta e vespa; tomar remédios como: Arnica, Água Inglesa Granado, Asmapan, Capivarol, Bromil, Capiloton, Emulsão de Scott, Óleo de Rícino, Postafen (para as meninas aumentarem o bum-bum), Vinho Reconstituinte Silva Araújo, Robusterina; usar espelho redondo com o escudo do seu clube, pente flamengo, canetas Shafer e Parker 51, maiô de elanca marca Catalina, sapato Clark duas cores, conga sete vidas, pó de arroz Cachemiére Bouquet, Coty, lavandas Atkinson, Desejo, Tabu, Promesa, Madeira do Oriente, sabonete Phebo, Lifeboy, relógio Eternamatic de pulso ou algibeira, calças de nycron, faroeste, tergal, percal, camisas de banlon, volta ao mundo, as meninas usarem vestido de organdi com gola de tafetá, califon, anágua, espartilho, combinação, saia plisada, vestido tubinho, rouge, laquê, marrafa, redinha para cabelo.
O homem moderno tem outros valores. Não tem tempo para nada. Não sorri, não chora. É preciso correr, lutar, aperfeiçoar-se. Preocupar-se com a violência e as drogas. Quer ter e não ser. É necessário o resgate de nossos costumes e da nossa história.
Lenilson Carvalho – Dentista e escritor