Valério Mesquita
O ano da graça de 2016 deu a largada. No ar, esperanças, perspectivas, novas manhãs de ressurreição e fadigas de longas e crepusculares esperas. Renova-se o verão, desta vez mais quente e sem fartura de cajus. Com relação a Macaíba, quais as novidades, além dos políticos de carreira? Em cada esquina um líder, em cada rua um partido e todos se alvoroçando porque 2016 é ano de eleição. Ninguém presta atenção ao Jundiaí decomposto e sujo, morrendo de inanição na rasura dos dejetos. “O Ibama só atua em Natal”, disse-me um vereador do alto de sua prosopopéia. “Não aparece nenhum fiscal fuleiro”, completou amargo e verde como se tivesse bebido a água poluída.
Passado o dia do enganoso Papai Noel, tá na hora de cobrar o preço da fatura. De lembrar aquilo que nos devem. Cadê a restauração do Empório dos Guarapes, gemido sufocado da história econômica do Rio Grande do Norte, sepultada no alto de uma colina. Fabrício Pedroza, fundador de Macaíba, que doou terras para construírem a igreja e o cemitério e que no governo imperial a transformou no eldorado do comércio e da indústria extrativista que superou Natal – hoje jaz esquecido, apunhalado pelo esquecimento oficial. Até agora, para alavancar o empreendimento e sensibilizar os órgãos públicos estaduais somente Henrique Eduardo Alves colocou no orçamento do ministério um milhão de reais. Cadê a Central do Cidadão, anfiteatro democrático da liberdade e da soberania do povo sem lenço nem documento! Onde a iluminação do canteiro central da BR-304, entre Parnamirim e Macaíba, de trevo à trevo, iluminando as fábricas e os operários contra as sombras do assalto e da insegurança.
Por que ninguém se lembra do vazio, e do vácuo do Hospital Alfredo Mesquita, desabitado de médicos profissionais, de equipamentos e leitos, ao ponto de ser acoimado como “hospital dos mártires”? Antes, era uma unidade de saúde regional e hoje nem municipal o é. E em Macaíba, qual o lugar, o bairro, a rua onde se vive sem violência ou sem droga? Mataram Cosme e Damião. Não os santos. Mas, os dois policiais das avenidas e praças. E nem motos e nem veículos trafegam mais porque o pânico, o medo e a diarréia sucumbiram ante o domínio da marginalidade dos capetas que manipulam as estatísticas criminais.
Diante de todo esse quadro trágico e parafernálico ainda vale dizer que um sonho a mais não faz mal, no alvorecer de um novo ano? Acho que sim. É preciso que o governador sem politicagem assuma Macaíba, como no passado o fizeram os outros governadores. O município tem importância histórica, cultural, além de significativa expressão comercial e industrial. A prefeitura não faz a sua parte, conseguindo recursos disponibilizados pelos parlamentares junto ao governador do Estado. Macaíba vive no esbanjamento e o prefeito não abandona o projeto de se perpetuar no poder. Lá se vão 16 anos. O povo cansou das mesmas caras. Um sonho a mais, para que estas e outras coisas venham a acontecer – não faz mal. Nenhum mal.
Valério Mesquita – Escritor – [email protected]