UM TALENTO CHAMADO JORGINHO –

Foi com muita honra e prazer ainda maior que recebi o convite do amigo Jorge Filho para prefaciar o livro sobre seu pai,  Jorge Tavares de Moraes (Jorginho), figura icônica do futebol potiguar. Jorge Tavares de Moraes nasceu em Mossoró-RN, no dia 25 de dezembro de 1927. Filho de Manoel Isaías e Apolônia Tavares, que  da união tiveram quatro filhos: João Tavares (Tidão), Luiza Tavares, Jorge Tavares (Jorginho) e José Tavares; família humilde e muita querida na pobre e pacata localidade de “Baixinha”, Mossoró, RN.

Logo cedo mostrou suas habilidades com a bola nos pés nos campos de pelada dos   bairros periféricos da  cidade. O que lhe rendeu uma rápida ascensão, progressão e afirmação no futebol do Estado. Veio para Natal no ano de 1946, por intermédio  do seu irmão mais velho,  Tidão, que já jogava no ABC FC. Conheci-o, ou melhor, comecei a o admirar e acompanhar  desde meados dos anos 1950, quando ia assistir aos  treinos e jogos amistosos do ABC FC no seu estádio no bairro de Petrópolis, o Maria Lamas Farache, na confluência das ruas Potengi e  Afonso Pena.

Desde já, muito me chamava a atenção, apesar da pouca idade que tinha, ver  um jogador de pequena estatura conduzir com tanta maestria e com tanta intimidade a bola em campo. O seu estilo de jogar,  sempre de cabeça erguida, lhe dava uma visão surpreendente de toda a extensão do campo. O seu comportamento de maestro reinava perante os seus pares durante a condução perfeita de suas jogadas. Era assim que eu o via e que me deixava impressionado e deslumbrado a figura do “mignon” Jorginho.

Fui testemunha ocular de vários de seus  jogos no Estádio Juvenal Lamartine (JL) na década de 1950; ficava impressionado com a vibração da torcida alvinegra com o seu ídolo. Um jogador diferente: não era alto, mas estava sempre marcando gols de cabeça; conhecia como ninguém a hora certa de subir para cabecear; não tinha chute forte, mas, com leves e sutis toques, fazia chegar bem “redonda” a bola para seus companheiros; não driblava em velocidade, porém usava os dribles certos, curtos e precisos com muita propriedade. Artilheiro nato, o que o fez ficar  registrado nos anais da história do ABC como o maior de todos tempos. Em momentos especiais (ganhando o jogo), sabia muito bem segurar a bola, ganhando tempo, aguardando o apito final do árbitro. Quando se via diante de uma severa marcação, era tinhoso, “malandro” e provocador de forma inteligente, procurando irritar o adversário, cavando a sua expulsão. Mas o tempo é o senhor de tudo e de todos. E como passou rápido!

Uma década depois, no início de 1961, atuando eu pelo Alecrim FC, fui cedido ao ABC FC por empréstimo para compor a equipe que iria fazer uma excursão pelo Nordeste (São Luiz – MA, Teresina e Parnaíba – PI). Momento que atuei ao seu lado e pude sentir e mensurar de perto toda a sua grandeza e desenvoltura no decorrer dos noventa minutos do jogo. O orgulho me bateu e me encheu de glória, sabendo que estava jogando com aquele que tinha marcado e carimbado a minha infância no futebol.

Em 1962, voltamos novamente ao convívio no gramado, quando fui convocado para fazer parte do elenco da  Seleção de Futebol do Rio Grande do Norte, que o tinha como a principal estrela; formamos uma boa e bela equipe para disputar o Campeonato Brasileiro de Seleções Regionais. Foi o momento da consagração. Daí para frente, passamos a ser adversários em memoráveis e marcantes clássicos entre ABC e Alecrim no centenário JL, nos anos de 1963 e 1964.

Fora do futebol, já de chuteiras penduradas, continuei a admirá-lo, agora, como um eficiente, responsável e zeloso funcionário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), muito querido e admirado pelos seus pares.

Já aposentado e enfermo, visitei-o várias vezes em sua residência, em companhia de outro grande admirador e amigo seu: Otávio Lamartine (Peninha,  1940-2008), num gesto humano de amor e solidariedade.

Essa foi a minha história de convivência, de amizade e de admiração suntuosa por Jorginho, o melhor jogador de futebol potiguar das décadas de 1950 e 1960. Agora é só se deleitar com essa riquíssima e empolgante  leitura da história do nosso ídolo maior do futebol, com o livro “Jorginho Tavares, o Professor de Bola”, contada pelo seu próprio filho, o historiador Jorge Tavares de Moraes Filho e o jornalista Rodrigo Eduardo Ferreira da Silva. Boa leitura! Obrigado, Jorges!

 

 

 

 

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *