UMA HISTÓRIA MARCADA POR EPISÓDIOS EXTREMOS –
Os acontecimentos amazônicos da possível perda do indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips é de muita tristeza, deixam os humanistas com uma forte dor, pelo trabalho que desenvolvia com os índios isolados completamente envolvidos com a natureza e com uma vida própria, sem máculas da tal “civilização” principalmente em um lugar ainda marcado dos efeitos da colonização histórica que empobreceu uma região que muito contribuiu com a humanidade com a riqueza do cobre, prata, ouro, madeiras nobres (mogno) e o látex da borracha.
O que aconteceu com o seringueiro amazônico, sindicalista, ativista, Chico Mendes – Francisco Alves Mendes Filho, emboscado e morto, quando defendia os seringueiros com a preservação da floresta amazônica, ainda de pouco reconhecimento nacional, mas para muitos um mártir brasileiro e até conhecido internacionalmente, com um liame nas mesmas causas populares da sobrevivência e da dignidade humana.
A História brasileira é cheia de marcos, talvez o maior deles Zumbi dos Palmares, “que não se deixou escravizar” na luta contra o escravismo que atravessou séculos no país para a libertação, e ainda com muitas vulnerabilidades como consequências e reminiscências daquela época, deixando um rastro de quilombos espalhados por todo nordeste. E de Chica da Silva escrava alforriada do arraial do Tijuco de Minas Gerais.
E João Candido Felisberto, o Comandante Negro, conhecido como “Navegante Negro” imortalizado na música de Elis Regina – “O mestre-sala dos mares”, líder da revolução da Chibata contra as condições duras de trabalho de longas jornadas impostas aos marujos que chegavam até aos castigos corporais através de chicote e chibatadas, mesmo abolido com a proclamação da república.
E de Margarida Maria Alves, defensora dos direitos humanos e sindicalista de Alagoa Grande da Paraíba, que perdeu a vida na porta de casa, emboscada e morta com um tiro de espingarda por um matador de aluguel. Entregou uma vida dedicada a melhoria das condições de trabalho no eito dos canaviais e pela alfabetização das pessoas do campo.
O massacre do Eldorado do Carajás no sudoeste do Pará, com os trabalhadores rurais que desejavam a desapropriação da Fazenda Macaxeira, perdendo a vida 21 trabalhadores rurais que foram assassinados em abril de 1996, que marchariam em direção a Belém pela força policial do Estado do Pará, cuja agressão durou duas horas, ensanguentando a pista. Pedras contra tiros.
Os maiores crimes ambientais e humanos em Diadema e Brumadinho em Minas Gerais em decorrência de uma mineração inescrupulosa, ainda sem reparações justas, aniquilando principalmente as vidas das populações ribeirinhas, poluindo rios, vitimando cidades inteiras, sem indenizações compatíveis, sem punições aos responsáveis e de um Estado letárgico.
Que desenvolvimento é este? Com trinta milhões de brasileiros passando fome? Com trinta milhões de brasileiros de analfabetos que não conhece o código da língua materna? Com tantas doenças infectocontagiosas que vitimam a população de morte? De cidades que não podem ver uma chuva mais forte que destroem casas e provocam mortes humanas?
No momento histórico da humanidade o desenvolvimento é preciso incorporar de fato a dignidade humana, o respeito ao ser humano e ao meio ambiente, não se pode conviver com a Amazônia brasileira a todo momento desmatada, encurralada pela associação da agricultura e pecuária extensiva, pelo desmate para venda ilegal de madeira, pela mineração destruidora, pelo narcotráfico presente agindo como se um Estado fosse, acabando com os ecossistemas, destruindo a fauna e flora.
Quantos marcos e mártires serão cobrados dos brasileiros? A História vai registrar quantos fatos extremos insistentemente? É preciso que os novos avanços tecnológicos e de novos saberes possibilitem novos momentos. Um desenvolvimento mais integrativo, com inclusão, sem tantas violências e gritantes diferenças, respeitando o meio ambiente e a casa comum planetária.
Evandro de Oliveira Borges – Advogado