UMA LIÇÃO INESQUECÍVEL – 

​70 mil mortes em nosso país causadas pelo novo Coronavírus. Certamente, quando este texto for publicado, o número terá aumentado significativamente. Só nos EUA são mais de 130 mil. No mundo, esse número já ultrapassa a casa dos 550 mil. E estamos apenas na primeira quinzena do mês de Julho de 2020. Onde estará a linha de chegada dessa corrida maluca empreendida pela humanidade?

​Enquanto a ciência busca encontrar a solução através de uma vacina salvadora, nós, participantes maratonistas, preferimos buscar encontrar culpados. E vamos nos reidratando com doses elevadas de ódio e intolerância associados às fórmulas milagrosas da Hidroxicloroquina, Ivermectina e Azitrocimina dentre outras.
Léon Denis, um dos maiores filósofos franceses do século XIX nos ensina em sua magnífica obra O problema do ser, do destino e da dor que “a educação que se dá às gerações é complicada, mas não lhes esclarece o caminho da vida; não lhes dá a têmpera para as lutas da existência.”

Ao observarmos a conduta humana nos deparamos com uma sociedade cada vez mais inquieta, infeliz e egoísta, porque assentada em valores do TER, ou seja, do materialismo que nega a importância do SER. E isso ocorre quando praticamos uma insaciável busca por direitos em detrimento dos deveres que se constituem atributos de legitimidade e conquista. Léon Denis é cirúrgico ao afirmar que “o gozo dos direitos não pode ser obtido sem a prática dos deveres. O direito sem o dever, que o limita e corrige, só pode produzir novas dilacerações, novos sofrimentos.”

O maior problema que enfrentamos no combate a essa pandemia, não está no Estado, tão somente. Está em nossa deseducação interior; na completa ausência de disciplina que nos faz sentir prepotentes e acima de todo mal. Por isso descumprimos regras; e não respeitamos o próximo e nem seus direitos. Só os nossos. O pior vem quando exigimos que o próximo respeite os nossos direitos sem que respeitemos os deles. Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito é muito mais que um mandamento. É um dever. E disciplina é dever. É então que surge a panaceia: A lei. E hajam leis. Para que alguém obrigatoriamente use máscara, tem lei; para que ninguém saia às ruas, tem lei; para que as atividades econômicas possam funcionar e garantir a subsistência humana, tem lei. Enfim, no mundo atual, para que sejam cumpridas as obviedades da conduta humana, leis são produzidas em profusão.

Entretanto, desde o século XIX, é Léon Denis que nos adverte: “Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas.” Em simples palavras, de nada adianta exigir providências das autoridades públicas ou mesmo culpá-las, quando não nos mostramos capazes de fazer a pequena parte que nos cabe. Não se pode atingir o todo sem que a unidade seja igualmente atingida.
Essa pandemia está transformando o mundo; o mundo não será mais o mesmo depois do COVID-19, dizem. E nós?

Também estaremos mudados para seguirmos o fluxo das transformações, ou continuaremos presos aos grilhões do egoísmo, das ambições e da lassidão moral?

No livro já citado, o filósofo francês desenvolve uma visão totalmente inovadora sobre a DOR que não deve ser interpretada como um castigo do Imponderável, mas sim,como uma lei natural de restauração do equilíbrio do tecido social e instrumento de revelação das demais potências da alma imortal em constante evolução.
Eis a lição inesquecível que a vida nos ensina.

 

Carlos Santa Rosa d’Albuquerque Castim – Procurador do Município aposentado e ex-secretário interino da Educação do Município de Natal

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