UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL –

Relendo um artigo meu recém publicado e, lendo as recentes manchetes e alguns rodapés que passam despercebidos, resolvi refletir um pouco sobre toda essa situação que estamos passando, aliás que o mundo todo está envolvido.

A primeira informação que me chamou a atenção foi a divulgação da inflação que ficou em 4,52% pouco maior que 2019, porém, dentro da faixa e muito próxima do centro da meta (4,5%).

Até aí tudo bem, reflete certa recuperação econômica, aliás comemorada pelo mercado.

As perspectivas dos atores envolvidos em exportação, especialmente as commodities não poderiam ser melhores, a recuperação das economias do mundo reflete em maior consumo, especialmente a recuperação da China, maior consumidor de produtos brasileiros, os preços em alta, o real desvalorizado.

Essa situação nos deixa tranquilos com relação às nossas contas externas e reservas cambiais.

As vacinas já estão sendo utilizadas com várias opções disponíveis, realmente vislumbramos já alguma luz no fim do túnel.

Mas comecei a trocar tudo isso em miúdos, ou seja, a situação real de nós trabalhadores, assalariados, micro e pequenos empresários, informais, funcionários públicos, excluindo-se desses a casta de altíssimos salários e demais benesses.

A primeira coisa que me vem à cabeça é que ainda estamos do mesmo tamanho que estávamos no ano passado.

A pandemia não retrocedeu, pelo contrário, recrudesceu e muito. Os hospitais começaram a superlotar e, agora, apresentando novas e graves situações, como a falta de oxigênio.

Ainda não temos sequer um plano definido de vacinação e nem vacina ainda aprovada, ainda que saibamos que estão praticamente liberadas.

Em as tendo teremos todo um processo logístico para sua distribuição e aplicação, o que se prolongará para mais da metade do ano.

A população ainda não se conscientizou da necessidade de se evitar aglomerações e age como se nada estivesse acontecendo, ou só está acontecendo no vizinho, levando governos a iniciar novo processo de restrições, que pode terminar a complicar ainda mais a situação econômica.

A educação que teve, para a grande maioria, um ano perdido ainda derrapa em seu retorno, especialmente a escola pública, essa com menores recursos e abrigando um universo de alunos que não dispõem das facilidades para aulas remotas, talvez mais um ano capenga.

A economia, não a prevista pelo mercado, mas aquela do dia a dia, de nós brasileiros, parece não caminhar tão bem assim não.

Ocorreu, claro, a reabertura do comércio como um todo, houve um grande aumento no consumo interno que sustentou uma menor queda do PIB.

Mas esse fato agora parece muito distante e explico-me melhor quanto ao meu raciocínio: até dezembro e mesmo início de janeiro ainda tínhamos o auxílio emergencial para a população que injetou $320 bilhões na economia e isso agora acabou.

Teremos um exército voltando a situação de extrema pobreza.

A inflação doméstica, aquela do supermercado já reflete a queda de consumo, mesmo daqueles que independem do auxílio emergencial, que não mais existe.

Alimento teve sua inflação medida em 14% com alguns aumentos expressivos tais como: óleo de soja 103,7%, arroz 76%, frutas 25%, carnes 17,9%, o famoso IGP-M, aquele que normalmente é usado para aluguéis e outros contratos está em 23,14%.

Internamente a coisa, a meu ver, não está tão tranquila assim como prediz o mercado.

Sabemos que provavelmente esses preços cairão, alguns já caíram um pouco, mas se estabilizarão em patamares bem mais elevados que antes.

O emprego, por mais que tenha iniciado com alguma recuperação, ainda é uma incógnita.

Fechamos o ano passado com uma taxa alarmante de desemprego da ordem de 14,5%, um exército!

Com o fim do auxilio governamental para as empresas há quem preconize mais demissões e até mesmo o fechamento de mais postos de trabalho.

Previsões sombrias de taxas beirando 18%, espero que não se concretizem, mas têm alta probabilidade.

Nessa questão perdemos a fábrica da Mercedes Benz, a VW está com um PDV para redução de 5.000 colaboradores, mais recentemente a Ford encerra suas atividades industriais no país deixando mais 5.000 pessoas a engrossar a lista do desemprego.

Isso sem contar empregos indiretos que serão fechados nas empresas satélites.

Mais recentemente o PDV do Banco do Brasil que tenta se adequar melhor as exigências de mercado e de seus acionistas, em se concretizando, serão mais 5.000 pessoas além de agencias que fecharão.

Não cabe aqui julgamento de valor disso tudo, cada empresa sabe de suas necessidades e, a bem da verdade, o objetivo de uma empresa é gerar lucro, esse é o fundamento de uma empresa e, por conta disso tem que tomar as medidas necessárias, amargas ou não para sobrevivência e rentabilidade.

Além disso tudo permanecemos em crise política, social e econômica, que está se refletindo fortemente na condução de medidas necessárias e urgentes para a administração do país, especialmente a política.

Uma hora é a eleição para prefeitos, em outra para as presidências da câmara e senado, logo mais a eleição geral e assim permanecemos numa eterna espera de acomodação política.

Privatizações importantes, reformas profundas, ainda que não tenha a ilusão que serão tão profundas assim, são atrasadas.

Vemos os interesses pessoais e corporativos sendo sobreposto ao coletivo.

Enfim, apesar de ver uma luz no fim do túnel tenho comigo que este é extenso demais e, por conta disso, muitos podem ficar pelo caminho.

 

 

 

 

Roberto Goyano – Engenheiro

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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