UMA PITADA DE AMOR –

As grandes crises econômicas, ao par das agruras que causam, constituem excelente laboratório para aprimorar os meios de sobrevivência das pessoas que se inserem na cadeia produtiva, notadamente no lado empresarial. Quando do crash de 1929, homens que atuavam na Wall Street apostando milhões na bolsa de valores, de repente tiveram que abandonar o caixa de aplicação financeira para trabalhar na caixa de maçã, curiosamente tirando o sustento com a venda da fruta-símbolo da mais importante cidade americana.

Para  que aconteçam essas invenções, nem sempre é necessária a ocorrência de uma crise de dimensão universal. Pode ser um abalo setorizado; um cisma somente  em um  país ou região; a fratura de um segmento empresarial. Não importa. O que basta é sair do imbróglio.

No Brasil, na início dos anos setentas, operou-se uma falência gradual de vários setores. O de diversões foi um dos que amargaram bastante. A relativa democratização dos aparelhos de tv terminou impondo uma retração de público aos cinemas. Muitas casas de exibição fecharam as  portas. Necessária uma reação!  Um dos métodos para isso era atender a clientela de forma bastante personalizada. E foi assim que procedeu Emilson Almeida, dono de um pequeno cinema em Cuité. Caçava espectadores no laço! Oferecia películas ao gosto do curioso. Conseguia filmes melosos, para os mais românticos; agitados, para os irrequietos; religiosos para os carolas e assim por diante.

Certo dia uma criatura arrodeava a bilheteria, examinando os cartazes, indeciso se entraria ou não no cine. Emilson  armou o bote, visando identificar a preferência do potencial pagante, que por sua vez, jogou na retranca, perguntando antecipadamente qual o estilo do filme. Obteve pronta resposta do exibidor: “É de guerra, tem umas partes de faroeste, outros pedaços de religião e lances de  comédia para boas risadas”. Como o moço permanecia inabalável diante de cardápio tão eclético, Emilson apresentou o  último e desesperado ingrediente: “E tem um pouquinho de amor no meio!”. Se essa sopa de sétima arte não agradasse ao bisonho, só se ele fosse posto para dentro do auditório na marra! Mas essa técnica não integrava o arsenal de convencimento do astuto operador de divertimento.

 

IVAN LIRA DE CARVALHO – Juiz Federal e Professor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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