Uma semana após o acidente que paralisou a obra da Linha-6 Laranja do Metrô na Zona Norte de São Paulo, o tatuzão continua danificado, alagado e preso dentro de um poço de ventilação do lugar.
O tatuzão, equipamento responsável pela escavação dos túneis, ficou comprometido depois de ter sido atingido na manhã da última terça-feira (1º) pelo vazamento do esgoto da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A tubulação com água suja rompeu e o tatuzão ficou submerso.
Novas peças do tatuzão deverão vir do exterior para substituir as que quebraram. Não há expectativa de quando isso irá ocorrer e nem o custo do reparo. Segundo a Sabesp, a drenagem para retirada do esgoto e liberação do tatuzão estaria sendo feita pela empresa espanhola Acciona, através da Concessionária Linha Universidade (Linha Uni), responsável pelas obras do metrô.
A Acciona não respondeu o portal g1 até a última atualização desta reportagem sobre o bombeamento do esgoto no local.
Outro tatuzão, que faz o setor sul da obra, também está parado em razão do acidente, mas não há confirmação se ele foi atingido.
Além de inundar o poço, o rompimento da tubulação de esgoto da Sabesp também cedeu parte do asfalto da pista local da Marginal Tietê, sentido Rodovia Ayrton Senna, entre as pontes do Piqueri e da Freguesia do Ó. Ninguém se feriu no acidente.
Segundo o Corpo de Bombeiros, dois funcionários da obra acabaram socorridos e medicados por precaução depois de terem tido contato com água contaminada que jorrava do cano. Os demais empregados conseguiram fugir e nenhum veículo caiu na cratera. O buraco acabou sendo concretado dias depois.
Mesmo assim, desde então, um trecho da Marginal Tietê foi interditado para o trânsito de veículos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A liberação total da via deverá ocorrer em 31 de março, segundo as autoridades.
Nesta segunda-feira (7), a Prefeitura abriu a nova pista emergencial. A nova pista de rolamento faz a conexão da Rua Aquinos com a pista local da Marginal Tietê (Av. Embaixador Macedo Soares), no sentido Ayrton Senna.
As obras da Linha 6-Laranja do Metrô ocorrem por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) firmada entre o governo de São Paulo e a Acciona, através da Linha Uni, que ganhou licitação em 2019 para dar continuidade às obras previamente interrompidas do metrô. O contrato de R$ 15 bilhões prevê a aquisição de 22 trens e o direito de operação e manutenção da linha por 19 anos.
O governo estadual não respondeu aos questionamentos feitos na segunda-feira (7). A gestão de João Doria (PSDB) ainda não sabe como o duto de esgoto se rompeu.
Na semana passada, A Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM) havia informado que abriria uma auditoria para apurar as causas e eventuais responsabilidades pelo rompimento do duto de esgoto.
Por meio de nota, a Sabesp informou que ela e a Secretaria de Transportes Metropolitanos acompanham o andamento dos trabalhos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), contratado para apurar os fatos e as causas do acidente.
Também por nota, a Acciona informou que aguarda a conclusão das apurações sobre as causas do acidente para depois se pronunciar. “As causas do incidente estão em apuração”, informa o comunicado da empresa espanhola logo após o acidente.
O rompimento do cano de esgoto aconteceu quando o tatuzão passava cerca de três metros abaixo. O trecho do asfalto que cedeu estava junto ao poço de ventilação entre as futuras estações Santa Marina e Freguesia do Ó, da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo. A escavação na região começou a ser feita em 2021 pelo equipamento.
20 metros de distância
Nesta segunda, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema) e outros profissionais ligados à Sabesp emitiram uma nota afirmando que o tatuzão deveria estar a pelo menos 20 metros de distância do supertúnel de esgoto. Segundo eles, o tatuzão atingiu a tubulação, rompeu o duto e provocou o acidente.
O secretário dos Transportes Metropolitanos, José Galli, sugeriu que o solo não teria suportado o peso da tubulação de esgoto e cedeu originando a cratera. Ainda de acordo com Galli, essa tubulação passava 3 metros acima de onde estava escavando o tatuzão, mas não teria sido impactada pelo equipamento.
Por meio de nota, a concessionária Linha Uni não deu detalhes do acidente e se limitou a informar que houve o rompimento de uma coletora de esgoto próxima ao Poço Aquinos, que funcionará como canal de ventilação e saída de emergência da Linha 6-Laranja, e que as medidas de contingência do problema já foram tomadas.
Ainda na semana passada, a Sabesp também só informou que o houve rompimento de uma supertubulação de esgoto, o chamado ITI-7, que tem aproximadamente 7,5 km de extensão, 3,4 m de largura e 2,65 m de altura – explicando a grande quantidade de água suja que tomou o túnel do metrô – e faz parte do projeto de despoluição do rio Tietê.
Falha no monitoramento
Para um especialista ouvido pela reportagem, a trepidação do tatuzão também pode ter causado a ruptura da tubulação que provocado a cratera ao lado do poço.
Para o presidente do Instituto de Engenharia, Paulo Ferreira, a trepidação causada por um equipamento como o tatuzão é uma das principais hipóteses para esse tipo de dano.
Em entrevista à GloboNews, o especialista em gerenciamento de risco, Gerardo Portella, também disse que pode ter havido falha no monitoramento das condições do terreno que cedeu. Para ele, o período de chuvas pelo qual São Paulo está passando pode ter afetado a saturação do solo no local, ou seja, a capacidade de acomodar água da chuva de forma que mantenha sua integridade e das construções que o cercam.
“A área está saturada começa a se desfazer, perder sua solidez”, explica Portella. “É preciso fazer uma verificação em todo o entorno, já que uma região apontou para nós uma evidência de problema. Esse problema pode estar acontecendo em outras áreas da região, porque ficou evidente que temos um problema de compactação”.
Segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE), não houve danos ao leito do rio Tietê.
MP e TCE
O Ministério Público (MP) apura as causas e eventuais responsabilidades pelo rompimento. A Promotoria informou que irá apurar também a extensão dos danos urbanísticos e ambientais decorrentes do acidente.
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) deu o prazo de 30 dias para a Secretaria de Transportes Metropolitanos e Acciona apontarem as causas do acidente e informarem qual será o tempo de atraso para entregar a obra.
Fonte: G1