AB DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes da Cunha Lima

 “Agora estas três coisas subsistem: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior delas é a caridade (Epístola de São Paulo aos Coríntios 13.13).

 Ele não teve uma casa para nascer (Lc. 2.7); não consta que tivesse amigos, mas chamou os outros de amigos (Jo. 15, 14.15); acusado, sob pena de morte, no Tribunal, não teve um advogado que fizesse sua defesa.   Contudo, nada impediu Jesus de fazer caridade. Ele é o paradigma da superioridade ética

Seguiu-O um santo essencial, São Paulo. Ninguém sabia nem soube descrever melhor do que ele a virtude da caridade.

Meu compadre Genibaldo Barros, que é talento também para amizade, disse-me que a caridade é a virtude da unanimidade. Que os pessimistas perdem a esperança, os cépticos também perdem a fé. Mas desesperados e cépticos praticam a caridade.

Muita gente une a caridade à esmola. A esmola também pode ser caridade, mas a maioria das vezes não o é. Há caridades superficiais, até mesmo fingidas, falsas. Por exemplo, a esmola quando é dada para se ver livre do pedinte.

O homem caridoso sente e tem atitudes de interesse e preocupação com os outros, ajuda, solidariza-se, consola. Santo Agostinho esclarece que é uma forma de amor, sem egoismos ou desejos sensuais.     É fazer ou desejar o bem do próximo, de hábito, costumeiramente.

A verdadeira caridade começa em casa, na família, entre os mais próximos. As excelências da virtude estão em torno de quem faz para se ampliar aos mais distantes. Ninguém pode ter benevolência, compaixão com a humanidade, se não as tem com os seus.

Um símbolo antigo da caridade é o pelicano. O mito estabelece que o pelicano, na ausência de alimentos, abre com o bico o próprio peito para alimentar os filhos. É também símbolo da maçonaria, disposição ao sacrifício pelos irmãos maçons.

O doutor pela Sorbonne Francisco de Assis Cortez Gomes, Chico-Padre, Chico-Bondade, em latim me doutrina que onde estiver a caridade, aí está Deus. Ubi caritas et amor Deus ibi est.

Caridade é irmã gêmea do amor. Tem muito de espontaneidade. Nenhuma lei obriga uma pessoa a ser caridosa. Não há possível coerção. Nem mesmo se pode cobrar o ato ou a atitude, ainda que o não caridoso não mereça a qualificação de ser humano. A caridade é um movimento da alma, muitas vezes contrariando o bem ou o benefício do autor. Todavia, pela espontaneidade que comanda o ato caritativo, o sacrifício do caridoso é aliviado.

Em uma ética superior, a caridade é uma exigência.   Existem analogias, associações mentais com outras humanas qualidades que dão impulso criador ao ser humano. Sobre o tema, a escritora Maria da Conceição de Almeida, admirável, resume a meta: “transformar a ética em uma estética da vida”. A receita para os males da ausência de caridade poderia ser tirada da lição do seu filósofo Edgar Morim. Falando sobre a ética da magnanimidade, ele aponta o único caminho: “a irrupção da magnanimidade, da clemência, da generosidade, da nobreza”.

Existem muitas manifestações de caridade, como prestar atenção, saber ouvir. Interessar-se pelo outro, ajudar na solução de problemas, até mesmo apertar a mão, sorrir, abraçar pode ser uma manifestação de caridade. Haveremos, os homens, de manifestar caridade planetária para mais de um bilhão de homens que têm fome, os lacerados pelo sofrimento, os desamparados, os abandonados, os desconsolados, os entristecidos.

Se somos caridosos, o Reino de Deus está dentro de nós.

Diógenes da Cunha Lima – Presidente da Academia de Letras do RN

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