Diógenes da Cunha Lima
“Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”.
(Placa que haveria, segundo a Divina Comédia, na porta do inferno. Dante sabia também que perder a esperança é estar no inferno.)
Sem esperança não há salvação.
A esperança é o pão dos pobres. Este é um ditado popular antigo. Diz-se na França: “Qui a tout perdu peut encore se nourrir d’espoirs”.
Ter esperança é confiar e aguardar coisas boas, o futuro bom. Que pessoa pode representar esta virtude? Dom Nivaldo Monte foi esperança. Ele não gostava do “vale de lágrimas” da Salve-Rainha. Ele foi o nosso Bispo – Esperança.
São virtudes básicas, chamadas teologais, além da esperança, a fé e a caridade. São graças espirituais. Mais que um pensamento é um sentimento do que é possível acontecer, um desejo que se acredita possível.
O símbolo maior da esperança é uma âncora, garantia de firmeza, apoio nas tormentas da vida. Acredito que o símbolo ocorreu a partir da expressiva beleza da linguagem de São Paulo. Está na Epístola aos Hebreus a denominação da esperança como “âncora da alma”.
Ter esperança é também possuir uma qualidade do espírito voltada para o correto e desejável. É uma razão de viver. É uma certeza íntima de receber de Deus aquilo que Ele lhe prometeu. Mediatamente também é esperar a vida eterna.
O contrário desta virtude é a desesperação. O povo diz “correr como um desesperado”. O desespero é veloz.
Talvez esteja certo o poeta e dramaturgo rapaz, que foi o Papa João Paulo II, quando afirmou em um seu drama que “não há esperança sem medo, nem medo sem esperança”.
Conta-se, no México, que um homem reclamava sempre de fazer tudo certo e não receber rosas, mas espinhos. Tinha esperança de ser recompensado. Um dia, de súbito, surge um desconhecido e lhe pergunta: “Tu gostas de flores?”. Ele, emocionado, respondeu: “Sim, sim, gosto muito de flores.” Então o desconhecido saca um revólver e dá-lhe um tiro, dizendo: “Amanhã terás flores.”
Os médicos aplicam melhor do que ninguém o conceito pelo qual enquanto há vida, há esperança. É uma proteção contra o desânimo, contra o abandono do doente. Porque remédio nunca se esgota. Minha filha Karenina diz que a esperança é uma força para quem luta contra a doença e um consolo para quem é mal amado. As palavras familiares, sinto-as verdadeiras.
A esperança é inseparável da fé. É uma expectativa de um bem que provavelmente virá. Entretanto, o esperançoso lucra imediatamente. Em verdade, quem tem esperança recebe logo hoje o benefício do que talvez venha a ter amanhã.
Para nós, profissionais do mundo jurídico, a lei é uma promessa do direito, o poder público promete cumprir essa promessa. Nós, povo, vivemos a espera de alcançar o cumprimento dessa promessa.
Será a esperança apenas uma ilusão, não verde, mas um arco-íris de cores que se confundem? Ou será que a esperança serve para aliviar a dor, o trabalho, as canseiras?
Lembrei no seu centenário de nascimento, o poeta maior Carlos Drummond de Andrade: “Meu Deus… / desculpai vosso filho que se veste / de humildade e esperança”. É a sua Prece do Brasileiro. Para mim, a esperança ainda é maior. Não é uma roupa que visto. É a minha própria pele. Quem fere a minha esperança, fere o meu próprio corpo.
Peçamos a Deus, nossa âncora, que nunca nos deixe faltar a esperança, alimento da alma.
Diógenes da Cunha Lima – Presidente da Academia de Letras do RN