Rinaldo Barros
“Nenhuma paz entre as nações até que haja paz entre as religiões” (Hans Küng, teólogo católico dissidente)
O rumo da prosa é uma tentativa de apresentar um desenho sobre a natureza da política e do comportamento dos agentes públicos (políticos e burocratas).
Ainda que o ser humano tenha defeito de fabricação, o que o Gênesis chama de “pecado original”, há que se criar uma institucionalidade político-social capaz de assegurar direitos e impedir ameaças à Liberdade.
No Brasil, além da corrupção endêmica, o peso da burocracia estrangula a economia e escancara a necessidade urgente de modernização do Estado.
É indispensável e urgente retomar a reforma do Estado, com novo pacto federativo – seja para controlar a corrupção, aprimorar políticas públicas e incentivar investimentos públicos (em parceria com o setor privado) em infraestrutura, mas, principalmente, para minimizar o patrimonialismo do capitalismo crioulo, tal como ocorre na “república surrealista dos trópicos”.
Penso que o grande desafio ético atual é “como criar – no Brasil – instituições capazes de assegurar direitos universais”.
Isso supõe uma ruptura com a atual visão (pós-moderna) de fragmentação do mundo e exacerbação egolátrica, individualista; tipo “primeiro Eu e os meus, o resto que se exploda”.
Isso implica suscitar uma nova cultura. O leitor já percebeu que essa transformação vai demorar…
De onde tirar os valores éticos universalmente aceitos? Como levar as pessoas a se perguntarem por critérios e valores? Como levar o homem comum a entender que o dinheiro público pertence aos cidadãos?
Mudar primeiro a sociedade ou as pessoas? O ovo ou a galinha?
Inútil dar um passo atrás e fixar-se na utopia do controle do Estado como precondição para transformar a sociedade. É preciso, antes, transformar a sociedade através de conquistas dos movimentos sociais, e de gestos e símbolos que acentuem as raízes antipopulares do modelo atual.
Combinar as contradições de práticas cotidianas (empobrecimento progressivo da classe média, desemprego, disseminação das drogas, banalização da vida, degradação do meio ambiente, preconceitos e discriminações), ainda assim, combinar com grandes estratégias políticas.
Esclareço que entendo como equivocado admitir que o Estado seja o único lugar onde reside o poder.
O poder se alarga pela sociedade civil, redes sociais, movimentos populares, ONGs, pela esfera da arte e da cultura, e de todos que incutem novos modos de pensar, de sentir e de agir, e modificam valores e representações ideológicas, inclusive religiosas. Há vida inteligente fora do Estado. É possível evoluir.
Hoje, na sociedade contemporânea, na sociedade da informação; a luta não é mais de uma classe contra a outra, mas de toda a sociedade contra um modelo perverso que faz da ganância e da acumulação da riqueza a única razão de viver.
A luta é da humanização contra a desumanização, da solidariedade contra a competição, da vida contra a morte. Constato que a crise do pensamento crítico é teórica e prática.
Teórica, de quem enfrenta o desafio de construir o futuro sem dogmatismo, e sem sacralização de líderes. E prática, de quem sabe que não há saída sem reinventar a estrutura sindical (nas cidades e no campo), reativar o movimento estudantil, incluir na pauta de luta as questões urbanas, indígenas, étnicas, feministas e ecológicas; principalmente, gestão e a preservação da água.
Neste mundo desesperançado, apenas a imaginação e a criatividade dos inconformados serão capazes de livrar a juventude da inércia, a classe média do desalento, e os excluídos do sofrido conformismo.
Isso requer uma ideologia que resgate a ética humanista. Não é pouco.
Em verdade, como queria Agostinho, teimosamente, apenas permaneço com a Esperança e suas duas filhas lindas – a Indignação e a Coragem; tudo por um novo Iluminismo, uma nova Utopia.
Urbi et Orbi (pode ir ao dicionário).
Rinaldo Barros – Escritor e professor
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