DO USO CAMPEÃO –
Ouvi perfeitamente quando um senhor disse para o outro:
– Vim requerer o uso campeão.
Pensei com os meus botões, o correto não seria usucapião? Em casa consultei o dicionário e lá estava: do latim usucapione, modo de adquirir propriedade móvel ou imóvel pela posse pacífica e ininterrupta da coisa durante certo tempo. Prescrição aquisitiva.
Lembrei-me imediatamente de um amigo que comprou um terreno à beira-mar e resolveu murá-lo. Qual não foi a sua surpresa quando soube que uma juíza, que morava na rua de trás, havia derrubado parcialmente o seu muro. Indignado ligou para a usurpadora:
– Doutora, a senhora veja em que país nós estamos: uma juíza de direito, que deveria respeitar a propriedade alheia, perpetra um ato desses, a senhora imagine as pessoas que não têm formação nenhuma os absurdos que poderão cometer…
– Doutor, esse terreno, se o senhor não sabe, é de servidão (passagem, para uso do público, por um terreno que é propriedade particular), portanto, quantas vezes o senhor faça o muro eu o derrubarei, pois preciso de uma saída para o mar.
– Está certo, doutora, então deixarei a sua passagem para o oceano, mas por favor não mexa mais na propriedade privada, sem antes comunicar ao dono. Passar bem e até logo.
Bateu o telefone e comentou com a esposa:
– A juíza está igual a Solano López, buscando uma saída para o Atlântico…
– E ele conseguiu?
– Ele, quem?
– Esse tal de Solano López… afinal, ela pode ter razão, pois, quem sabe se ele não firmou jurisprudência…
– Minha filha, pelo amor de Deus, estou me referindo a Francisco Solano López que foi presidente do Paraguai em meados do século dezenove e queria tomar um pedaço do Brasil para ter acesso ao oceano Atlântico…
Como um assunto puxa o outro, lembrei-me da Guerra do Paraguai, de Caxias e de Manuel Gogó, grande figura mossoroense. Existia em Mossoró o Armazém Caxias, que usava o seguinte slogan: Armazém Caxias, o gigante da Rodolfo Fernandes (que era a rua onde ficava a loja). O professor de história perguntou a Manuel:
– Quem foi Caxias?
A resposta foi imediata:
– O gigante da Rodolfo Fernandes!