UTI: cuidado x traumas –
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Nesse espaço, se encontram recursos materiais e tecnológicos para um melhor atendimento ao paciente; equipe técnica qualificada composta por diversos profissionais de saúde, como médicos intensivistas, enfermeiro-chefe, técnicos de enfermagem, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, fonoaudiólogo, entre outros. É dada uma atenção constante, 24h diárias de medicações, exames, testes e rotina.
Além de apresentar um quadro clínico grave, o paciente internado na UTI exibe especificidades quando comparado a outro, por estar submetido a situações que podem originar ansiedade, dor, solidão, sofrimento e até mesmo o medo da morte de maneira potencializada. Por ser um ambiente com atendimento contínuo, os pacientes ficam expostos a uma luminosidade artificial permanente, aos ruídos e bipes constantes dos aparelhos, a uma alteração dos ciclos circadianos (do ciclo de sono e vigília), perdendo a percepção se é dia ou noite, por exemplo. Além disso, são constantemente submetidos a procedimentos invasivos e têm a sua privacidade invadida, ficando confinados ao leito. Todos esses fatores causam incomodo aos pacientes.
Com relação à invasão da privacidade, os pacientes também relatam que há uma privação da autonomia, liberdade e uma maior dependência aos cuidados do outro (nesse caso, da equipe de cuidado), o que desenvolve um estado de inatividade. O pensamento de “não posso fazer nada sozinho” pode frustrá-los e gerar um sentimento de impotência, diante da falta de controle de si mesmo.
Alguns pacientes relatam que as conversas entre os profissionais que ali trabalham e o restrito tempo de visita dos familiares e amigos também são fatores que os incomodam, bem como, a falta de interação da equipe com os próprios pacientes, não fornecendo as informações importantes. A sensação de abandono e o sentimento de saudade, insegurança e vergonha contribuem para o aumento da ansiedade. O medo da morte é outro aspecto importante a ser considerado, uma vez que eles dividem o mesmo espaço com outros pacientes também graves, tendo, geralmente, o seu leito separado do vizinho por uma cortina. Vivenciar e partilhar o sofrimento do outro ou até mesmo a morte, pode provocar o medo do que pode acontecer consigo, criando uma série de fantasias.
Nas situações dos pacientes atendidos na Casa Durval Paiva, quando há a necessidade de um suporte de UTI, eles são encaminhados para uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-P), a qual é destinada à assistência de pacientes com idade de 29 dias a 14 ou 18 anos, sendo este limite definido de acordo com as rotinas hospitalares internas. Comumente, os familiares dos pacientes têm um choque ao receber a notícia da necessidade da internação na UTI por ter em algum momento da vida ouvido relatos de experiências traumáticas.
Diante de tantas demandas, o paciente não precisa apenas de intervenções voltadas para o cuidado da parte física/biológica. Para se ter uma assistência humanizada dentro da UTI, é imprescindível que também existam ações voltadas para o cuidado da saúde mental e bem estar deles e de seus familiares. Ao psicólogo cabe realizar uma avaliação dos aspectos psicossociais do sujeito e manter uma comunicação clara, segura e atenta para favorecer ao paciente a expressão de emoções e sentimentos. É importante estimular que o individuo se expresse, ainda que seja pela comunicação não verbal. Ajudá-lo a buscar recursos internos para conseguir enfrentar as suas dificuldades, esclarecer fantasias, incentivar o vínculo de confiança na equipe, estimular que eles perguntem quando tiver dúvidas sobre os procedimentos, facilitar a aceitação de dependência e fortalecer as motivações de sua vida são possibilidades terapêuticas importantes que o psicólogo pode fazer.
Embora seja um lugar com muitos sentimentos negativos e experiências traumáticas, a UTI é o local do hospital mais seguro para o paciente grave, pois é onde ele terá uma assistência especializada 24h por dia.
Laíse Santos Cabral de Oliveira – Psicóloga – Casa Durval Paiva – CRP 17-3166 – [email protected]