O governo federal ainda não tem previsão de quando vai utilizar a vacina da Pfizer contra Covid-19 em crianças a partir de seis meses de idade. Apesar da aprovação da Anvisa, o Ministério da Saúde prevê a realização de uma reunião com técnicos sobre o tema. O encontro ocorreria na sexta-feira (30), mas foi desmarcado.
A demora na inclusão da vacina repete o que ocorreu com a liberação das doses para a faixa de 5 a 11 anos: à época, o ministro Marcelo Queiroga convocou uma audiência e uma consulta pública para discutir a imunização infantil (relembre os trâmites abaixo).
No governo atual, há histórico de ministérios que publicaram documentos oficiais para desestimular a vacinação infantil, e o próprio presidente Jair Bolsonaro atacou a vacinação infantil contra Covid e espalhou desinformação sobre mortes de crianças.
A atual etapa de “aconselhamento” está a cargo da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI). Com o adiamento da inclusão do tema na reunião da CTAI – sem data definida – o país segue sem previsão de quando começa a usar um “saldo” de 35 milhões de doses que tem junto a PFizer graças a um contrato já assinado com a fabricante.
Em entrevista ao portal g1, o diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde, Ridauto Fernandes, diz que o acordo prevê a possibilidade de ajustar qual o tipo de vacina a ser recebida e que essa etapa da burocracia não deve ser demorada.
“O contrato prevê possibilidade de ajustarmos o tipo [de vacina] a ser entregue, se houver evoluções do produto. E ajustaremos. Não deve demorar muito”, disse Fernandes.
A expectativa é de que as doses que ainda não chegaram no Brasil sejam destinadas para o novo público infantil, mas o governo e Pfizer não detalham como andam as negociações. O contrato em vigor também prevê um acréscimo de 50 milhões de doses, o que não deve acontecer.
“Todos os contratos previram a possibilidade de acréscimo de doses. O acréscimo máximo é de 50% em cada um. Mas não houve acréscimos nos dois primeiros e nem temos previsão disso no terceiro”, afirmou Ridauto.
Atualmente o Ministério da Saúde precisa de cerca de 39 milhões de doses para vacinar as crianças brasileiras de 6 meses a 4 anos. O esquema vacinal previsto é de três doses.
Segundo dados do IBGE, o Brasil possui cerca de 13 milhões de crianças entre 6 meses e 4 anos. Tirando a faixa etária de 3 e 4 anos, que também pode ser vacinada com a Coronavac, o número de doses necessárias é menor: cerca de 21 milhões, em um cálculo aproximado.
Considerando esse recorte, o governo federal teria doses da Pfizer suficientes para vacinar apenas as crianças de 6 meses até 2 anos e 11 meses.
A aplicação das doses da Coronavac em crianças a partir dos 3 anos é feita de forma isolada pelo país e com base nos estoques em cada localidade desde a aprovação da Anvisa, em julho desde ano.
No último dia 22, crianças ficaram sem a segunda dose em Natal (RN) por falta da vacina nas unidades de saúde. Recentemente, o Ministério da Saúde negociou a compra de 1 milhão de doses com o Instituto Butantan.
Na semana passada, o Ministério da Saúde chegou a convocar os membros da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI) para uma reunião, que seria na próxima sexta-feira (30). Integrantes do grupo técnico viram o convite com a possibilidade de começar a discutir, dentro da pasta, o início da vacinação com a Pfizer a partir dos seis meses.
No entanto, em um segundo e-mail, o Ministério da Saúde desmarcou a reunião. A justificativa dada foi “mudança de pauta”, segundo apurou a reportagem. Até esta segunda-feira (26), uma nova data ainda não tinha sido marcada (entenda abaixo).
“Há uma lentidão e uma indisposição do governo em acelerar o processo. As negociações com a Pfizer já deveriam estar acontecendo. Porque o grande gargalo do processo é abrir negociação com o fabricante”, ressaltou o pediatra e infectologista Renato Kfouri.
“Esse processo deveria ser feito o mais rápido possível. O que temos visto é que as crianças são acometidas, sim, com números consideráveis de óbitos nessa faixa etária. A vacina se mostra segura, já é usada em vários países, e ela mostra eficácia protetora mesmo para a [variante] ômicron e suas formas graves, com internação e morte”, disse o médico pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Mais de 30,1 mil casos graves de Covid-19 em bebês e crianças de zero a quatro anos foram reportados desde o início da pandemia até o dia 3 de setembro de 2022. Em relação às mortes pela doença nessa faixa etária, foram 1,6 mil desde 2020. Em agosto deste ano, foram 554 casos graves e 27 óbitos.
Fonte: G1
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