VALORES INESTIMÁVEIS –
“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.”
(Fernando Pessoa)
Nutrimos ao longo da nossa existência, desejos e vontades; anseios e expectativas que nem sempre são alçados. Caminhamos por estradas desconhecidas, terrenos íngremes, por vezes planos, outros movediços. Montanhas sem atalhos, trilhas a desbravar sob o instinto dasobrevivência, em selvas habitadas por animais selvagens e traiçoeiros, espreitando-nos, dispostos ao bote. Caminhos tortuosos que embrenhamos no afã das conquistas almejadas.
Não há como não nos sentirmos importantes num simples elogio, ou quando somos lembrados nas pequenas coisas, nos pequenos gestos despretensiosos. Desejamos ser importantes, respeitados, lembrados e amados. Queremos fatias de destaque nas vidas de quem nos rodeia. Na lembrança das pessoas que consideramos importantes. Prestigiamos a reciprocidade do que sentimos. Difícil é existir, superando as decepções e frustrações do eterno caminhar.
Sermos valorizados, ou não, quando reconhecidos, ou não, pelo que somos e pelo que fazemos, faz com que estejamos numa constante busca evolutiva de quem somos, o que queremos e o que estamos a fazer a cada passo da caminhada. Ligando-nos intimamente com anseios e desejos preestabelecidos, em tempos pretéritos. Rever valores, ideias e conceitos faz parte do amadurecimento e discernimento que alicerçam as estradas futuras.
Importa-nos saber que as expectativas nascem das necessidades de um ser, e nem sempre condizem com os anseios e retribuições do outro. Sermos importantes para o outro não depende de nós. Tem coisas que não se cobram, só se recebem; como importância, cuidado, carinho, amor e atenção. Tem coisas que não se cobram por serem gratuitas e espontâneas. Tem sentimentos invendíveis.
Amor não se pede, se sente; atenção não se cobra, se recebe; importância não se pleiteia, se percebe; carinho não se reclama, se tem. Relacionamentos devem ser pautados nos sentimentos mais nobres que revestem a alma.
Talvez eu seja uma romântica inveterada; do tipo que não manda flores, mas cultiva cactos em pequenos vasos de cerâmica, ou flores nos jardins das lembranças. Que chora a saudade de um amor ausente e dança ao luar a esperança das novas madrugadas. Talvez eu seja produto vencido nos tempos modernos de amores efêmeros.
Talvez eu seja produto escasso nas prateleiras dos amores fabricados, enlatados e rotulados, marcados pelo preço do mercantilismo vigente em nossos dias. Talvez… No entanto, em tempos de amores comprados, o que importa são as edificações do ser a cada derrocada; a amplitude do pensar ao interrogar; a satisfação das conquistas que, um dia, nos acompanhou nessa longa jornada; as considerações externadas que engrandeceram e acalmaram a alma; o respeito e a valorização do que somos sem a ditadura das cifras.
O que importa é saber receber, mesmo não tendo o que “retribuir”, visto que “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar”, como nos ensinou Fernando Pessoa.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro “As esquinas da minha existência”, [email protected]