VAMOS AO CINEMA? –
Escrevi estas impressões bem antes da pandemia. Mas acredito que elas não perderam a validade. Atualizei informações e compartilho aqui o meu carinho e respeito pelo Cinema como um gostoso programa, uma grande diversão.
Ir ao cinema ainda faz parte da minha vida. Sinto-me bem quando estou na poltrona – hoje confortável – de uma sala de projeção, engolido pelo “escurinho”, primeiro naquela ansiedade juvenil que me assalta desde a entrada na sala – ou até bem antes. Depois, mergulhando no enlevo de uma arte encantadora e mágica que dificilmente será suplantada ou extinta.
E, na chegada ou na saída, encontrar rostos conhecidos, amigos ou não, exibindo o sorriso satisfeito. Lembro até de alguns assíduos nos cinemas dos shoppings. Jomar Jackson, Wilson “Popô”, Dr. José Farache, Raimundo Uchoa – colega e amigo – senhoras da minha idade e habitués das antigas sessões do Cinema de Arte, nos bons tempos do Cine Rio Grande, do Cinema Nordeste.
Há um tempo atrás era comum as pessoas alugarem filmes nas locadoras. Hoje, pode-se acessá-los em algum streaming e, em casa, à vontade em cadeiras e sofás, promoverem as suas sessões largados, às vezes desconcentrados e com pouca reverência pela obra. Qual será a medida desse prazer? Reunir a família na sala e economizar o caro preço do ingresso? Ou a satisfação de poder dar um pause na exibição, pegar uma cervejinha, tomar um café, comer um sanduíche ou uma bolacha? Talvez, ou na verdade, a questão seja mesmo de segurança pessoal. Sair de casa, mormente à noite, tornou-se motivo de preocupação.
Não é crime nem pecado aproveitar as modernas tecnologias a serviço dessas confortáveis relações com a arte. Eu também compro e vejo filmes em casa. Tenho acesso às plataformas virtuais e um pequeno acervo de DVDs. A grande maioria é de clássicos que os cinemas, com a concorrência da televisão, jamais voltarão a exibir. Eu defendo que seria uma boa ideia investir na exibição sistemática dessas obras.
Porém, haja o que houver, à parte os avanços e adaptações, ainda prefiro o velho e clássico ritual de ir ao cinema. Um programa completo, que começa em casa, na escolha do filme, no deslocamento até o local, num cafezinho e uma balinha antes, a emoção de comprar a entrada, ter acesso à sala, a ansiedade da espera, curtir a exibição, talvez um aconchego, um namorinho tradicional, e depois trocar opiniões com quem estiver disposto a ouvir e comentar. Um grande programa.
O que não existe mais, claro, é aquele ritual dos três toques anunciando o início da sessão e abertura das cortinas, com a projeção ainda por cima do pano. Atlântida – uma fonte luminosa; UCB – uns raios circulando a logomarca. Eram marcas brasileiras anunciando o “Jornal”, imprescindível, embora sempre defasado, reclamado por nós quando não era exibido. E, depois, os indefectíveis e apreciados trailers dos próximos lançamentos. Estes, claro, ainda existem. Desagradável mesmo, hoje, são as propagandas, os comerciais cada vez mais frequentes antes das exibições. Não acho justo pagar entrada para um filme e ver a tela infestada de anúncios publicitários.
Quero lembrar, afinal, que entre nós, aqui em Natal, pelo menos, combos com baldes de pipoca, lanches fartos, sucos e refrigerante para acompanhar as sessões é uma prática recente, criada pelo marketing moderno. Comprar e degustar balas e até um saquinho de pipoca antes da sessão, este sim, é um hábito nosso desde os tempos dos famosos westerns, dos seriados, de encantadoras aventuras épicas e românticas, e das nossas clássicas e brasileiríssimas chanchadas. Trocar, comprar e vender revistas (gibis) e figurinhas, quando garotos, também.
Ah! Mas isso foi há muito tempo…
Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais