VAMOS AO TEATRO? –

A cidade de Natal estava ansiosa pela reabertura do Teatro Alberto Maranhão. Neste dia 19, um Domingo, novamente as históricas portas e o romântico jardim – o foyer do passado – estiveram recebendo um público que, como eu, gemia saudoso, pela ausência daquele espaço tão emblemático e especial. Porque esse nosso teatro é, sem dúvida, o edifício, a edificação, a construção mais bela e aconchegante da cidade, abrigo não só dos movimentos teatrais, musicais, culturais. É um local onde podemos respirar os ares da criação artística, protegidos pelos seus vistosos frontões, admirados pela beleza dos arcos dos seus portões e das sacadas das suas janelas. Misturados às delicadas esculturas e envolvidos pelo romântico e clássico estilo Art Nouveau, somos transportados para o tempo em que a nossa cidade era fortemente marcada pela influência da cultura francesa, fenômeno tão bem retratado pelo escritor Tarcísio Gurgel, na sua maravilhosa obra Belle Époque na Esquina – leitura imperdível.

De cortinas abertas, na ribalta, nas coxias, até o ciclorama, no seu palco, muitos artistas já desfilaram, representando as dores, os amores, as tragédias e comédias da vida. Desde o tempo em que serviu como sala de projeções nos primórdios do nascente cinematógrafo, quando abrigou o Cinema Natal e o Cineteatro Carlos Gomes, a histórica sala esteve presente na vida dos aficionados pelas artes cênicas. Ainda estão na memória da cidade e ainda ressoam nas poltronas da plateia, das frizas e camarotes, os grandes momentos dos maravilhosos espetáculos de teatro, música e dança, levados à cena no lendário palco. À luz dos seus refletores, atuaram grandes nomes do teatro em Natal, a partir do século 19. Entre realizadores contemporâneos, jamais esqueceremos de Sandoval Wanderley, Meira Pires, Racine Santos, teatrólogos, autores e formadores de elenco, assim como o inesquecível Jesiel Figueiredo, vitorioso ator e encenador de Natal. Grandes grupos e nomes da cena musical e teatral do Brasil também atuaram no palco centenário. Praticamente todas as cabeças coroadas da música e da cena no país estiveram entre nós, quando ainda não imperava o babilônico Teatro Riachuelo, a mais nova e amada sala de espetáculos de Natal.

Foi fundado no ano longínquo de 1904, quando recebeu o nome original, Teatro Carlos Gomes, para reverenciar um dos mais importantes compositores brasileiros, e em 1957, recebeu a designação atual, em homenagem a um eminente vulto político do Estado e pela qual é nacionalmente conhecido. Em 1988, é declarado Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte. Como um elemento vital para a sociedade natalense, sempre mereceu, portanto, o zelo e os cuidados dos governantes que, vez por outra, mostram-se negligentes com a manutenção física e cultural do espaço. O teatro, que é um dos amores de Natal, parece não despertar o mesmo carinho e a mesma atenção de alguns homens públicos, que sempre alegam entraves burocráticos quando o assunto é a preservação e o respeito às artes e à cultura. Enfrentou vários problemas estruturais e, quiçá desta vez, seja melhor gerido, mantido e protegido, para alegria de todos e a felicidade geral da cidade e dos seus fiéis e incontáveis frequentadores.

A partir de agora, acho que o velho TAM voltará a encher os nossos olhos de cultura, beleza artística e retomará o seu nunca perdido charme de outrora. Será bastante o público, tradicional ou moderno, voltar a prestigiar suas atrações, nacionais ou locais, usufruir dos renovados recursos e urdimentos técnicos, lotar suas históricas poltronas, e novamente respeitá-lo como verdadeiro patrimônio cultural e sentimental, nestes tempos tão carentes do necessário bafejo das artes e do amoroso afago da melhor convivência social. Então, vamos ao teatro?

 

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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