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Públio José 

Todos sabem que Jesus nasceu em Belém. Alguns sabem que ele foi criado em Nazaré. Poucos, porém, têm conhecimento que grande parte de sua vida adulta ele passou em Cafarnaum. Esta foi a cidade escolhida para morar. E aí, por uma questão de lógica, foi onde ele praticou a maioria dos seus grandes milagres. Cafarnaum ficava na margem ocidental do Mar da Galiléia, contava com sua própria sinagoga, posto alfandegário e um destacamento de soldados romanos, fatos que demonstram a sua importância, naqueles tempos, como aglomerado urbano. Foi em Cafarnaum que Jesus convidou Mateus para segui-lo, transformando-o num operoso discípulo, como foi também ali que Simão Pedro e André abandonaram tudo para dedicar suas vidas ao Mestre. Foi nas praias do Mar da Galiléia, tendo Cafarnaum como base principal de operações, que Jesus proferiu grandes discursos e efetuou grandes milagres.

Em Cafarnaum Jesus curou o servo do centurião, a sogra de Pedro, efetuou a restauração do paralítico e o livramento do endemoninhado. Entretanto, pelo grande número de pessoas que acorriam à casa de Jesus, podemos concluir, com certeza, que foi infinitamente maior a quantidade de milagres ali praticados. A escolha de Jesus pela cidade está registrada no livro de Lucas, capítulo 7, versículo 1, cujo texto afirma: “Tendo Jesus concluído todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em Cafarnaum”. Esse gesto de Jesus nos leva a uma série de indagações. Porque Cafarnaum? O que ele pretendia ali? Que fascínio a localidade exercia sobre ele, a ponto de nela fixar residência? Tudo tem a ver com o nome. Na cultura daquele tempo o significado dos nomes era a essência, o âmago da questão. Você era o que seu nome significava. E as denominações geográficas não fugiam a essa regra.

 Assim, Cafarnaum significa “cidade de Naum”. Naum fora um profeta do Antigo Testamento que certamente nascera ali. E o que Naum significa?  Compassivo, misericordioso, compreensivo, amoroso, caridoso. Está explicada a questão? Cafarnaum, na verdade, é um estado de espírito. E Jesus – ao fazer da localidade a sua base de operações – envolveu o seu ministério, a sua atividade, o seu querer num manto de compaixão, de misericórdia, de compreensão pelos homens. Com um detalhe todo especial: os habitantes de Cafarnaum não foram gratos a Jesus. Cafarnaum era cidade, do ponto de vista espiritual, de grandes privilégios, mas a responsabilidade correspondente não foi devolvida na mesma proporção. Ao contrário, ficou conhecida pela sua incredulidade e pelo fato de entravar, de obstacular a obra de Jesus. Mesmo assim, Jesus nunca deixou de tratá-la com carinho, com compaixão.

 A mensagem que ele nos deixa, então, é que precisamos estabelecer em nossa volta um contexto de compaixão pelos outros, de compreensão, de misericórdia – sem a espera de nenhum retorno. Talvez até recebendo em troca a agressividade, a incompreensão, a injustiça, o desamor. Mas nos mantendo firmes numa atitude de compaixão. O que Jesus deseja, na realidade, é que nós façamos de nossas vidas uma prática constante da misericórdia, do bom relacionamento com os outros. Isso no casamento, na família, na vizinhança, na comunidade, e até nos âmbitos político e profissional – ramos de atividade onde grassam a inveja, a disputa exacerbada, o engano, o agudo desejo de levar vantagem. É legítima a vontade de progredir, de crescer. Mas a conquista do sucesso infelicitando os outros deixa nossa vida com um forte sabor de amargura. Cafarnaum nos espera. Vamos habitá-la?

 Públio José – jornalista – ([email protected])

 

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