VAMOS “TRABALHAR” O FUTEBOL –
Durante todo o meu tempo de confinamento compulsório da pandemia do coronavírus, tenho aproveitado (ainda bem) para assistir aos jogos de futebol realizados no Brasil e mundo afora.
Como ex-atleta, passei a não somente enxergar o jogo, mas a analisar as suas formações táticas, técnicas e os seus desdobramentos.
Percebi, primeiramente, que o futebol estrangeiro hoje bate de longe o nosso: pela sua melhor qualidade, pela sua técnica afinada, pela sua disciplina, pela sua determinação e sua organização administrativa e financeira. Clubes milionários.
Observei também que existe uma cultura bem diferente em relação à conduta disciplinar com a arbitragem em campo.
O árbitro domina inteiramente o embate; não há reclamações, nem bate-boca com jogadores; as expulsões (quando raramente ocorrem) são respeitosamente atendidas.
Outro aspecto observado: a longeva permanência dos treinadores nos clubes; não existe o chamado troca-troca, mesmo diante de alguns reveses que venham a acontecer.
Volto ao nosso futebol: crise em cima de crise; o troca-troca de treinadores; a febre na busca incessante por treinadores de fora do país. É um novo e desafiador momento.
Nesse instante crítico e doentio que vivemos, a situação só tende a piorar: fogem os patrocinadores, ausência do público nas arenas, folhas de pagamentos altíssimas, grandes dívidas trabalhistas, política interna nefasta, interferindo no futebol, calendário de jogos maluco e por aí segue a odisseia falimentar. É um Deus nos acuda.
Como torcedor flamenguista, uma palavra, um desabafo: que diabo de urucubaca deixou o Mister Jesus no ninho do Urubu? Que macumba danada foi essa? O elenco é o mesmo; acredito que o ambiente de harmonia interclube e entre os jogadores seja o melhor possível; a situação financeira não é a das piores, apesar do abalo sofrido com a desclassificação nas duas últimas competições ( Taça Brasil e Libertadores).
Nos últimos meses, já foram contratados dois treinadores para substituir Jesus, e nada. Não há nada que faça melhorar; os jogadores são os mesmos e, diga-se, com mais alguns excelentes reforços. Futebol não se desaprende do dia para a noite.
No entanto, faz dó e piedade ver o Flamengo jogar hoje. É uma morrinha doentia, uma apatia de doer nos ossos. Os goleadores perdem gols debaixo da trave; o miolo de zaga, meu Deus, deixa passar tudo, quando não, provoca o próprio gol. Dar saudade e vontade de convocar a super zaga central do Alecrim F.C., supercampeão potiguar da década de 60.
Algo estranho está acontecendo. Não acredito em macumba, mas já pensei em falar com um conhecido Pai de Santo do nosso meio futebolístico para dar uma esticada até o Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro, e desenterrar o boneco português amarrado e alfinetado que o Mister Jesus deve ter deixado nos fundos do gol de entrada do campo do Ninho.
Vamos “trabalhar” o futebol. É o jeito, meu Mengão!
Berilo de Castro – Médico e Escritor, berilodecastro@hotmail.com.br
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