VAMPIROS EXISTEM…SIM! –

Quando criança, tinha medo de ir sozinho ao quintal de casa, cheio de pés de bananeiras, cujas folhas roçavam umas nas outras. Minha imaginação me fazia acreditar nos mais variados personagens das estórias escutadas, estarem ali escondidas para me buscar.

Passado o tempo, sempre procurei utilizar a coragem equilibrada, como neutralizador para meus pânicos, a partir de quando concordei em deixar a casa paterna e viajar, muitas vezes sozinho, para, quase dezoito horas depois, adentrar em Caicó, terra de meus avós maternos.

Contava dezesseis anos, quando assumi a vontade de estudar nos Estados Unidos. A comunicação ainda se fazia através de cartas. Lembro de, no momento da despedida, meu genitor falar: meu filho, se alguém de nossa família falecer, não retorne, porque não dará tempo de chegar antes do funeral… continue seus estudos, pois, no futuro, colherá os frutos.

Sempre considerei o viajar uma forma de domesticar medos… conviver com experiências fantásticas, ver o mundo desconhecido e entender como ele funciona. Sair para a aventura, como quem foge de casa, deixando, temporariamente, para trás, compromissos e obrigações, não importando suas exigências… seguindo de alma livre e coração cantando. Foi assim que, literalmente, conheci o mundo.

Já comi gafanhoto, tive uma cobra naja enroscada no pescoço, andei de elefante, camelo e llama, visitei lugares como Maxhu Pichu, no Peru, os escombros de Troia, na Anatólia, a Cordilheira do Himalaia, no Nepal, as Muralhas da China, o Mont Saint Michel, na França, Lake Louise, no Canadá e, o Castelo de Amber, na Índia. Mas, a emoção de adentrar o Palacete de Conde Drácula, na Transilvânia, foi fantástica, sobretudo por, aquele personagem, haver sido uma das razões de minhas fobias infantis.

Tudo começou na cidade velha de Brasov, em cujas artérias, durante a noite, pessoas não circulam como se estivessem se protegendo de grandes perigos. Em sua periferia encontra-se a fortaleza, antiga habitação de Drácula, na pessoa do monarca Vlad III da Valáquia, posteriormente conhecido por, em sua maldade, empaletar (colocar uma estaca no anus do inimigo até a mesma sair através da boca e fincá-la ao chão), no interior de sua Cidadela, mais de mil homens, de uma só vez, enquanto sua esposa, cortava os punhos de moças virgens somente para coletar o sangue posteriormente usado como cosmético. Ao adentrar aquela casa vampiresca, incorporei a lenda. O ambiente era sinistro e, a cada passo, escutando o ranger do piso de madeira sob os pés ou me deparando com instrumentos de tortura, como a cadeira de pregos, esperava o surgimento, bem defronte a mim, daquele que durante as noites gerou pânico a muitas gerações.

Se o Drácula é tido como uma figura fictícia, ao concluir a visita tive certeza de que os vampiros existem, sim! Não aqueles de sombrias figuras e olhos vermelhos, mas os modernos, os vampiros reais, representados por semelhantes que se aproximam, de forma singela, para, quando menos se espera, lhes estarmos entregando o rico pescocinho. Saí do Castelo consciente: é salutar doar o sangue por um projeto de vida, por um sonho, dificultando ser sugado por quem sempre lhe pedirá mais, sem jamais retribuir. Tenho muito medo dos Mortos Vivos do cotidiano.

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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