VANDRÉ –
Um tanto quanto, não. Eu o considero totalmente esquecido da mídia e do público que o admirava no auge de sua trajetória musical. Refiro-me ao cantor, compositor, advogado e poeta paraibano, nascido em João Pessoa, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, popularmente conhecido como, Geraldo Vandré.
Não fosse alguém postar nas redes sociais uma foto do Vandré, em comemoração aos seus 88 anos de idade, para mim ele já havia “batido as botas” e partido para a “cidade dos pés juntos”. Ei-lo “vivinho da Silva” morando com uma irmã, no Rio de Janeiro, depois de enviuvar em 2021. Na verdade, anda afastado do mundo musical desde a sua volta do exílio nos anos 70.
Vandré não foi um compositor de apenas uma música. Antes do estrondoso sucesso “Pra não dizer que não falei das flores”, canção também conhecida como “Caminhando” (Vou caminhando/Sorrindo, cantando/Meu canto, meu riso/Não são para enganar), ele havia gravado sete álbuns com aproximadamente 42 músicas, das quais mais de 20, sozinho.
Ainda hoje é salutar ouvir as suas composições do tempo da Bossa Nova com letras e músicas vanguardistas. Se duvidam, escutem Fica Mal Com Deus, Porta Estandarte, Quem Quiser Encontrar O Amor, Samba Em Prelúdio e Ventania. Porém, a música que permanece na lembrança popular é Disparada: Prepare o seu coração/Pras coisas que vou cantar/ Eu venho lá do sertão/Eu venho lá do sertão E posso não lhe agradar.
São Paulo parou na noite de 10 de outubro de 1966, a fim de ouvir a disputa final do II Festival da Canção, na TV Record. A expectativa era tamanha que alguns cinemas e teatros suspenderam suas sessões. De um lado a bucólica Banda, defendida pelo próprio compositor, Chico Buarque; do outro lado, a telúrica Disparada, na voz de Jair Rodrigues. Empate. O resultado não poderia ser outro. Jair ganhou o prêmio de melhor intérprete. Isso, quase seis décadas atrás.
A notoriedade de Vandré se consolidou com a música Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, quando perdeu o festival da Record, em 1968. Concorreu com a composição de Tom Jobim e Chico Buarque, Sabiá, interpretada por Cynara e Cybele. A estrondosa vaia no Maracanã, não foi propriamente para a canção Sabiá, se destinava ao júri que, supostamente, prejudicara o autor de, Caminhando, por censura induzida do regime militar vigente.
Geraldo Vandré foi detido, censurado, torturado e se exilou no Chile, e, de lá viajou para Alemanha e França. Quando retornou ao Brasil, em 1973, já não era o mesmo. Decidiu que só faria “canções de amor”. Para espanto de seus fãs, compôs Fabiana, em homenagem a Força Aérea Brasileira-FAB.
O sofrimento pode ter destruído a vitalidade do homem Vandré, porém, a sua obra permanece viva como o hino da resistência ao sistema militar que vigorava na época. É de arrepiar a mensagem da canção, a seguir trechos da mesma:
Caminhando e cantando/E seguindo a canção/Somos todos iguais/Braços dados ou não
Há soldados armados/Amados ou não/Quase todos perdidos/De armas na mão
Vem vamos embora/Que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
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