NARCELIO

José Narcelio Marques Sousa

Foi de dar dó o clima de consternação que se abateu sobre os associados do Aeroclube após a decisão judicial dando ganho de causa ao Governo do Estado na pendenga pela titularidade da propriedade onde, beirando um século, funciona o mais tradicional clube social do Rio Grande do Norte.

No meu entendimento, nesta altura dos acontecimentos, provocar a evolução da disputa para estâncias superiores é malhar em ferro frio porque agora Inês é morta. A iniciativa resultará em mero exercício de masoquismo.

A verdade é que se estabeleceu uma onda de antagonismo explícito nessa peleja judicial, idêntica às exploradas nas tradicionais películas de faroeste, onde o mocinho foi o Governo e, os bandidos, os associados do clube. Isso mesmo! Aos sócios do Aeroclube impingiram pecha de elite privilegiada beneficiária exclusiva de amplo espaço territorial em área nobre da capital – um dos poucos pulmões respiráveis de nossa selva de pedra.

Visto por esse prisma a imagem fica distorcida para quem está alheio aos fatos. Acontece que abnegados integrantes do clube lutam, há décadas, para não extirparem do cenário da capital, a remanescente das associações a dar feição à história social da cidade. Alguém duvida que se não fossem as ações judiciais encetadas por esse punhado de sócios, já conviveríamos ali com um paliteiro de edificações? Que o não menos danoso instrumento garantidor do empréstimo milionário para a construção da Arena das Dunas seria pinto diante do estrago imposto à cidade com o tal empreendimento imobiliário?

Espelhado no que ocorreu no restante do país, desapareceu a atividade social em clubes. Em contrapartida, se ampliou a prática do esporte amador. O Aeroclube oferece, além do tênis, modalidades como natação, futebol, futebol de areia, beach-tênis e xadrez, facilitando a integração de estudantes da rede de ensino e de crianças carentes. Os associados pagam mensalidades para a manutenção das instalações e dos empregados, complementado com o aluguel das quadras de futebol. Nenhum diretor recebe pró-labore e os associados, comumente, são convocados a participar de “vaquinhas” para fechar as contas do mês.

E mais: o Aeroclube mantém em atividade uma das mais conceituadas escolas de Aviação do país, além de cursos de Mecânico de Aviação e de Comissário de Bordo. Que destino terão tais atividades? E se o HUB-Latam se estabelecer em Natal, como tudo deixa acreditar?
Sejamos realistas. Com a crise econômico-financeira que atravessa o estado e o país, se o governo assumir o Aeroclube, em pouquíssimos dias, todo aquele patrimônio estará dilapidado. Não por má gestão governamental, mas, por falta de condições materiais. Por que não evitarmos esse desastre?

Existe no âmbito do governo algum projeto elaborado para o local? Cogita-se de parceria público-privada? Alguém já se propôs a tanto? E se o Aeroclube continuasse cuidando da área, enquanto o estado define que ações deflagrar? Que prevaleça o bom senso, para o bem do esporte amador.

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil[email protected]

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