VIAJAR É PRECISO –
Na juventude, sofri uma grande decepção quando fui reprovado no exame para ingressar na Escola de Aprendizes Marinheiros de Recife. Juntamente comigo, fizeram mais três amigos. Eles foram aprovados, e eu, por longo tempo, amarguei a frustação. O arrogante e desdenhoso militar, encarregado de informar o resultado, dissera-me: “Um cego não pode servir à Marinha!”. Referia-se à cegueira – revelada nos testes – quase total do meu olho direito, resultado de uma violenta infecção que, na primeira infância, ameaçou privar-me da visão completa. A minha maior tristeza, além da ausência dos queridos amigos, era o fato de perder a chance de, como marinheiro, viajar pelo Brasil e até pelo resto do mundo, conforme testemunho de militares que viveram a experiência.
A campanha publicitária de certa empresa de turismo diz que “viajar torna as pessoas melhores”, e acredito que isso pode ser verdade. Eu, entretanto, há muito tempo perdi o sonho e o anseio juvenil de conhecer outras cidades, países e lugares, a ponto de sentir-me desconfortável e incomodado quando acenam para mim a possibilidade ou necessidade de fazer uma viagem. E foi só como regente e coralista, ou integrando amadoras equipes esportivas e com apenas dois passeios turísticos, que realizei algumas das minhas mais importantes excursões aéreas pelo Brasil, pelo exterior, e como empregado da Caixa, nas várias vezes em que fui convocado para viajar a outro estado, a serviço da empresa. Portanto, para um suburbano de poucas ambições e pela minha vontade e disposição, acho que viajei o suficiente, não para realizar sonhos, mas o bastante para ver-me satisfeito ou conformado.
Mesmo correndo o risco de não me tornar “melhor”, contento-me em “conhecer” outros lugares usando os recursos disponíveis, mesmo que seja apenas através do relato de um viajor, da abundante literatura geográfica, ou filmes e documentários que atualmente enchem a programação dos canais de televisão. É pouco! já ouvi de amigos e parentes: é preciso estar no destino para apreciar e absorver in loco os encantos ou as particularidades de uma região. Concordo totalmente, porém, sou forçado a mencionar um impeditivo que é considerado descabido e até absurdo. É o problema do deslocamento em si, dos preparativos e da organização, mormente quando a viagem será longa. Também tem a ver com o veículo a ser utilizado. Em um automóvel, conduzindo ou não, sinto-me inseguro; no ônibus ou nos aviões, inquieto e tenso, em virtude do confinamento, também não me sinto bem, presa de achaques e comorbidades que causam insegurança e desconforto. Alguém pode alegar que o deslumbramento, as belezas e descobertas da viagem valem a pena de sofrer nos deslocamentos. Pode ser, mas eu não me sinto disposto a pagar o preço. Basta-me o universo da vivência, da monotonia e das amenidades locais e domésticas, que são capazes de preencher e satisfazer minhas parcas, limitadas e idosas aspirações.
Mas o meu conformismo provinciano não me impede de louvar os viajantes: aqueles que não se contentam com os limites da sua urbe e dos seus currais, abrem as porteiras dos sonhos e da curiosidade natural e se lançam na aventura de conhecer outras terras, entender outros povos, de se verem face a face com outras raças e origens ou com a exuberante variedade da natureza, enriquecendo seu cabedal e tornando-se pessoas melhores. O processo civilizatório carece também da troca de culturas, da convergência de aspirações e do cotejo de doutrinas e pensamentos. É um dinamismo necessário ao crescimento coletivo e à desejada compreensão de que negros, brancos, louros, amarelos, somos um único elemento, que habita o mesmo espaço, e atende pelo nome de raça humana.
Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais
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