VIDA COMPLICADA –
Não existe mais critério para balizar as informações ou alterações sobre os riscos da saúde humana. As referências qualitativas mudam a cada ano. Não há unidade científica sobre esta ou aquela questão que afeta o ambiente vital. Falo assim porque ouvi e assisti as últimas prescrições pela TV sobre os produtos e os microorganismos causadores de infecções e doenças que rondam os ares e lares brasileiros. São fatos que só podem ser discutidos pela mediação confrontativa. São conselhos de saúde que conheço desde o tempo dos almanaques Capivarol, Jeca Tatu ou do Biotônico. Eles atendiam a suficiência cultural do povo através da mensagem simples e simplificada porque se vivia um tempo ingênuo e menos complicado.
Hoje, recomenda-se que a descarga do vaso sanitário, após o ato defecatório, somente seja acionada com a tampa fechada a fim de evitar a proliferação de micro-organismos. Esses vilões invisíveis podem infectar escovas de dentes expostas, sabonetes, pastas, cremes e tudo que habita o espaço da privada. Principalmente, seu usuário. Foi aí que remeti o pensamento para o tempo em que não havia nos banheiros o bidê, o chuveiro e a descarga. Só a jarra, tina, tonel, tanque e a milagrosa lata de querosene que empurrava, canal aberto, o bolo fecal diretamente para a fossa. Era a higiene daquela época antes da chegada da suíte, que me parece, mesmo cercada do conforto moderno – tornou-se hospedeira dos mesmos coliformes fecais numa quadra doentia e propícia a contaminações. Que saudade das tratáveis verminoses!
Nas geladeiras, por exemplo, é inconcebível a mistura de alimentos. É o que sugere a autoridade da saúde através do canal da Globo. Em priscas eras, juntava-se carne, ovos, peixe, frutas, verduras, legumes, bebidas, leite, conservas e enlatados de todo o tipo na famosa geladeira Cônsul ou Gelomatic à querosene, sem problemas. Nos dias da moda, estão proibindo agrupar todos os gêneros dentro do refrigerador. Latas de carne para cães ou gatos nem pensar. Somente acondicionadas em papel-filme apropriado. No queijo reside o risco da bactéria salmonella. Nas latas, a ferrugem é ninho de germes. Mas, o golpe emocional veio depois: os adoçantes, de modo geral, são cancerígenos. Sabíamos que a sacarina e o ciclamato de sódio teriam sido assim pesquisados e rotulados. Salvava-se o aspartame. Todavia, a mutabilidade científica da pesquisa médica é inexorável. Caiu o último produto químico popular que substituia o açúcar.
Um diagnóstico médico virou doença nos ambulatórios e consultórios na atualidade: virose. Gripe que se curava antigamente com analgésico comum hoje é virose. Disenteria inespecífica também. Até sintomas de complicados estados patológicos são pressagiados de virose. Os vírus, tão intensamente divulgados e disseminados, tornaram-se realidade biológica e exigem de nós automatismo defensivo. O tema não é vulgar porque trata de um hábito fisiológico que integra o preocupante cotidiano humano. Na tarefa manual e rudimentar, um famoso cronista social trouxe, certa vez, dos Estados Unidos, a novidade incomparável de limpar-se, após a evacuação, através de suave instrumento mecânico de contato. E com ele veio a dica de que ninguém se contamina por falta de higiene. Veja o leitor como tudo hoje é complicado.
Depreende-se que é preciso uma lei contra as impurezas. O mundo fede há muito tempo. Mas, o ser humano é o seu principal agente. Nessa eleição, o assunto foi esquecido. Nenhum candidato sustentou a defesa da saúde humana, nem da animal com tantos pets instalados em Natal. Perderam o voto dos bichinhos.
Valério Mesquita – Escritor, mesquita.valerio@gmail.com
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