Rinaldo Barros
Temos, agora em novembro de 2015, cerca de 7,3 bilhões de almas no planeta Terra. A previsão é que em 2050 existam 9,4 bilhões de pessoas nesse nosso lindo Globo azul. No patropi, já somos cerca de 205 milhões e a previsão é que em 2050 esse número possa chegar a 260 milhões.
A maior parte dessas pessoas viverá nas grandes cidades e metrópoles. Isso significa lidar com situações complexas como mobilidade urbana, sistemas sanitários deficientes, aglomerações em áreas de risco, entre muitas outras problemáticas.
Historicamente, diferentes modelos têm norteado a ocupação dos espaços urbanos. Diversos autores descreveram a cidade como uma aglomeração densa, insalubre, produtora de grandes problemas, constituindo-se no que se compreende como “monstro urbano”. A ciência contribuiu para modificar esta caracterização, figurando como fundamento do desenvolvimento das urbes. Nesse sentido, ciência e técnica apresentam-se como instrumentos para buscar soluções para os problemas nas cidades.
A organização do espaço urbano para solucionar questões relacionadas ao tráfego, ocupação, eficiência e conforto, tem sido o principal alvo dos estudos. Desses trabalhos, surgiu o conceito de “cidades sustentáveis” ou “cidades inteligentes”, aquelas que adotam práticas eficientes voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. Esses ambientes ofertam equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados, utilizam recursos de forma eficiente, entre outros, de forma a não comprometer o meio ambiente.
Por sua vez, a adequada gestão e a preservação dos recursos hídricos estão na pauta de todas as discussões atuais sobre o futuro do planeta.
A água é um recurso necessário à vida em todas as suas manifestações, mas o seu mau uso, desperdício, ou aproveitamento inadequado – compromete o futuro da vida no planeta.
A boa notícia é que a ciência já pode ajudar na construção de um modelo de gestão que permita conciliar a preservação dos recursos hídricos com as pressões advindas do aumento populacional, da concentração urbana e do desenvolvimento econômico.
Um dos caminhos possíveis é o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo (a serem adotados nos planejamentos urbanísticos), que contribuam para a redução do impacto da urbanização por meio do tratamento dos esgotos, redução do desperdício e reuso da água nos sistemas de abastecimento.
Além disso, é preciso investir em tecnologias alternativas e sustentáveis que ajudem no combate à escassez da água, como o aproveitamento de águas da chuva (todo telhado deve ser um coletor d’água!).
Essa concepção “técnica” das questões urbanas, todavia, não se tornará real sem um avanço semelhante na esfera política, na democratização dos espaços e das relações sociais, a par do enfrentamento – na prática – da crise de valores em que estamos atolados.
Para legitimar essa afirmação, valho-me do ensaio “A sociedade dos iguais” (Edições Manantial) do francês Pierre Rosanvallon (catedrático de história de política moderna e contemporânea no Collége de France e diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais), o qual está sendo considerado pela crítica como o mais profundo sobre o tema.
O autor esmiúça as teorias da Justiça promovidas por autores como John Rawls e seu ideal: a igualdade de possibilidades e sua aliada principal, a meritocracia. Rosanvallon destaca ainda que, entre a revolução conservadora de Margaret Thatcher e Ronald Reagan e a posterior queda da União Soviética; surgiu um “novo capitalismo” – globalizado e especulativo – que mudou a face da História.
Esse “novo capitalismo” destroçou a capacidade de os seres humanos viverem e construírem juntos, como iguais, um futuro sustentável; atualmente somos apenas consumidores.
Matamos nossos sonhos e passamos a combater a nós próprios, e passamos a ser o nosso pior inimigo.
É a preocupante vitória do “Ter mais”. Somos consumidores, renunciamos a condição de cidadão.
É a derrota do “Ser mais” e, talvez, a derrota do pensamento crítico.
A cidadania está desaparecendo em meio à velocidade da vida pós-moderna, onde tudo é descartável e fugaz; até mesmo as relações sociais. Uma “Vida líquida”, como quer o sociólogo Zigmunt Bauman.
É, sem dúvida, um grito rouco de alerta, avisando que a vida não pode esperar!
Será?
Rinaldo Barros – Escritor e professor