Mesmo que alguns digam que o uso excessivo dos videogames pode diminuir a inteligência e até incentivar o comportamento violento, a ciência demonstra os efeitos benéficos causados pelos jogos eletrônicos. Principalmente como ferramenta de estímulo cerebral. Um recente estudo mostrou, por meio de análises neurais, que jogadas diárias em plataformas 3D resultam, em adultos e idosos, no aumento de atividades no hipocampo, área do cérebro conhecida como a sede da memória. Especialistas acreditam que o resultado constatado por cientistas canadenses poderá ser usado como estratégia de prevenção a problemas neurológicos recorrentes no envelhecimento, como o Alzheimer e outras formas de demência.
Em 2014, pesquisadores da Universidade de Montreal recrutaram voluntários de 20 anos que foram instruídos a usar videogames 3D para jogar partidas que envolvessem atividades de resolução de tarefas de lógica e quebra-cabeça. Para o experimento com idosos, foram selecionadas 33 pessoas, com idade entre 55 e 75 anos, que foram divididas em grupos aleatoriamente. Parte dos participantes foi instruída a jogar videogames 3D durante 30 minutos por dia, em cinco dias por semana. A outra parcela foi orientada a tomar aulas de piano com a mesma frequência. Um terceiro grupo, que funcionou como controle, não realizou as tarefas. O experimento durou seis meses e foi conduzido na casa de cada participante, onde foram instalados os consoles e levados os pianos.
As análises mostraram que, ao longo do experimento, os participantes apresentaram aumento da matéria cinzenta no cérebro, disse Gregory West, professor de psicologia da Universidade de Montreal e principal autor do novo estudo. Os pesquisadores avaliaram os efeitos do experimento no início, logo que acabaram os exercícios e seis meses depois do estudo, por meio de duas análises: testes de desempenho cognitivo e ressonância magnética (MRI). Os métodos permitiram a observação da atividade do cérebro e de quaisquer mudanças em três áreas: o córtex pré-frontal dorsolateral, que controla o planejamento, a tomada de decisões e a inibição; o cerebelo, que desempenha um papel importante no controle e no equilíbrio motor; e o hipocampo, o centro da memória.
De acordo com os resultados da ressonância magnética, apenas os participantes do grupo do videogame apresentaram aumento do volume de matéria cinzenta no hipocampo e no cerebelo, além de melhora na memória de curto prazo. O líder do estudo disse que esse resultado pode ter ocorrido devido a um estímulo neural reforçado promovido pelos jogos eletrônicos. Os testes também revelaram melhoras neurais em indivíduos que participaram das aulas de piano. Eles registraram aumento da matéria cinzenta no córtex pré-frontal e no cerebelo dorsolateral, mas em menores proporções, quando comparados aos voluntários do videogame. “Quando o cérebro não está aprendendo coisas novas, a matéria cinzenta se atrofia à medida que as pessoas envelhecem. A boa notícia é que podemos reverter isso e aumentar o volume aprendendo algo novo, como usando jogos 3D”, ressaltou West.
Fonte: Correio Braziliense