VIOLEIROS NO TELHADO –
O quadro eleitoral sucessório, tanto o nacional quanto o estadual, os partidos políticos protagonizaram verdadeiros concubinatos, em vez de coligações. Misturaram tudo. Idéias, programas, projetos individuais, mensagens pessoais e reeleições aborrecidas, cacete, chatas, próprias de filme ruim. As alianças viraram um clichê complexo e contraditório de amancebamentos. Ou elas são fruto da confusa lei eleitoral, para acabar com o “caixa dois” ou institucionalizaram mesmo o canibalismo eleitoral, a promiscuidade de legendas, no teatro democrático recém inaugurado num salve-se quem puder.
Os sintomas estão à vista, à olho nu. Candidatos chegaram a 25ª hora do prazo eleitoral sem o registro do respectivo vice, tanto para presidente da república, como para governador. Nomes foram gerados na hora crepuscular. Jair Bolsonaro, por exemplo, tal e qual, Diógenes, o grego da lâmpada do meio dia, penou para achar um desocupado. Aqui, no Rio Grande do Norte, de última hora, saiu do útero da coligação o vice do governador na pessoa de Tião da Prest, lá de Mossoró. Ora, se o governo atual já paga o salário dos servidores com atraso avalie, no futuro – à prestação. Os partidos, até parece, que viraram blocos carnavalescos para o desfile de sete de outubro. Todos regiamente compensados com subvenções provenientes do fundo partidário bancado pelo governo federal.
Como se não bastassem tantas agremiações políticas, lá em Brasília criaram mais uma denominada CENTRÃO, com objetivos inconfessáveis de buscar empregos e vantagens. Por outro lado, um fato que chama atenção é o registro nas convenções de candidatos já criminalizados, com sentença transitada em julgamento. Se ocorrer, na Justiça Eleitoral, com um deles a revogação da penalidade, a decisão se estenderá a quantos estejam em situação semelhante. A famosa lei da “ficha suja” se tornará iníqua e desmoralizada.
O mesmo temor que a sociedade vive com relação a segurança pública, ele se prolonga por existir excesso de partidos políticos, abuso do número de ministérios, além do mau uso de auxílios e vantagens que premiam classes privilegiadas dos três poderes da União e dos Estados.
No que tange aos municípios, é tempo do Ministério Público e a Justiça Eleitoral anteciparem a vigilância severa no viciado emprego do dinheiro do contribuinte pelos prefeitos no financiamento de candidaturas de conjugues, cunhados, filhos, irmãos, no maior certame de nepotismo em período eleitoral que se tem notícia em gênero, número e grau. A melhor maneira de corrigir é evitar o triunfo do corruptor e do beneficiário. Se eleito for, vai se prevalecer de todos os meios e saídas que, infelizmente, a nossa justiça, por vezes, permissivas, oferecerá. O Ministério Público do Rio Grande do Norte já começou a agir por Extremoz (Câmara Municipal), mandando demitir parentes e aderentes. Nessa fase profana da eleição, como são belos os pés dos mensageiros que anunciam o emprego, quando não a propina para compra de apoio. E o eleitor jamais deixará de ser um eterno calouro. Daí o número crescente de votos nulos e brancos.
Lembro-me do tempo em que as campanhas políticas eram estipendiadas pelos candidatos. Foi a cultura reinante. Haviam desvios mas em pequena escala. Hoje, até a própria lei eleitoral é medíocre e limitada. As coligações constituem mais atos de amasiamento do que programas de gestão, visando negociar cargos, pecúnias e vantagens no horário eleitoral. O objetivo é subir no telhado como no telhado ficam os insurretos das penitenciárias nos dias de sedição. Sem querer o exercício de profeta do sinistro, medito e temo o dia em que os presídios do Brasil se insurgirão de forma uníssona, tão armados por dentro como por fora, para travarem a única guerra civil que o país ainda não viu.
Mas, quem estiver satisfeito com o assalto organizado ao poder há de ter paciência pois tudo é democracia. A previdência está falida; a segurança pública não existe em lugar algum; a saúde desaparelhada de profissionais e remédios; a droga, essa sim, dominando os porões da terra nas fronteiras, pelo ar e pelo mar; a máquina estatal pesada, obesa e grávida de privilégios e a educação enferma na rede pública e cara na privada.
Valério Mesquita – Escritor, membro da ANL e do IHGRN– [email protected]