VIRAMUNDO 101 –

Expedito Rodrigues era de Mossoró, cidade importante, considerada capital do Oeste no Rio Grande do Norte.

Cresceu entre amigos e, por influencia dos Rosado, família tradicional e influente no Estado, formou-se em Direito Criminal.

Na Faculdade sempre foi um brilhante aluno e tornou-se amigo do Juiz Varela Barca, um homem respeitado, austero e muito conceituado em Natal.

Ia a todos os júris populares e isso o ajudou bastante nos estudos.

Expedito era um moreno alto, cabelos lisos, bem penteados, cara fechada e de poucos amigos

Andava invariavelmente com a Constituição debaixo do braço.

– Expedito por que você não se separa desse livrão?

– Os crentes não andam com a Bíblia? A minha Bíblia é é essa aqui.

Conhecia todos os artigos de cor.

Era muito assediado pelos colegas, professores e pessoas que o procuravam para consultá-lo quando queriam saber algo sobre a Constituição.

Desde o segundo período que era estagiário da empresa Advogados Associados e se inteirava de todos os casos do Dr.

Edivaldo Suassuna, um advogado paraibano, rigoroso e muito competente.

Através do Dr. Edivaldo conheceu o super Delegado natalense Maurílio Pinto e passou a orientar os seus “meninos de ouro”, muitos deles na prisão de Alcaçuz.

Adorava filmes policiais e era fã de Steve McQueen, astro do filme “O homem de Alcatraz”.

Tornou-se Juiz de Direito e era implacável nos seus julgamentos.

Lia tudo sobre a Inquisição Católica.

Presenteava os raros amigos com o livro “Giselle, a amante do Inquisidor”, considerado por ele como uma obra prima.

Seus questionamentos nos júris que presidia era uma tortura para os réus e Advogados de Defesa.

Gostava de beber uísque e de fumar cachimbo com fumo importado, em casa, sossegado lendo e ouvindo Beethoven ao piano.

Casou com Adelaide, sua Secretária e formada em psicologia, mas não atuava.

Era uma mulher bonita, inteligente e muito caseira.

– Expedito, por que Adelaide não trabalha?

– Ela trabalha muito, me assessorando. Tá sempre comigo auxiliando meus estudos.

– Né ciúme não?

– Também. Quem tem mulher bonita, geralmente é ciumento.

Não tiveram filhos.

– Filhos atrapalham. Não quero dividir Adelaide com ninguém.

Expedito era um Juiz rigoroso de hábitos severos.

Homem de poucos amigos e antissocial.

Não gostava de festas e de vez em quando ia a praia com Adelaida que dirigia o carro pra ele curtir seu uísque a vontade.

Conversavam muito e Adelaide falava sem parar. Eram muito amigos. Se conheciam e conviviam há muitos anos.

– Pepê eu quero um filho.

– Meu amor, filho atrapalha a vida conjugal.

– Mas eu quero. Sou saudável e toda mulher saudável quer pelo menos um filho. Coisa de Deus.

Expedito Filho nasceu em dezembro daquele ano e foi uma alegria só. Não deu trabalho nenhum mas era muito guloso, mamava o dia inteiro.

– Amor, vou ter que arrumar uma pessoa pra me auxiliar enquanto você toma conta do nosso filho.

– Tá certo. Vou falar com Eliana, minha prima Advogada. Pode ser?

– Sim.

Eliana trabalhou com Expedito durante dois anos, se casou com Alberto e foram morar em Fortaleza.

O Juiz Expedito era o terror para os Advogados de defesa.

Ele tinha a mania de inquirir o réu objetivamente e queria respostas curtas no julgamento.

– Responda SIM ou NÃO

– Mas ele tem o direito de contextualizar…

– Responda com objetividade ao que pergunto.

E muitas vezes o ambiente fica pesado porque ele queria ouvir o que lhe interessava.

Com isso criava muitos desafetos.

Mas ele não dava importância.

Expedito Filho foi estudar no Salesiano da Cidade Verde.

Era um menino bonito, lourinho de olhos escuros e alegres, amigável.

– Puxou a mãe. Não pode ser advogado criminal.

Reclamava Expedito.

Uma tarde de sábado encontrei os três almoçando no Restaurante Sal e Brasa e perguntei:

– Expedito em quem você se inspirou na sua vida profissional?

– Em Tomás de Torquemada

 

 

 

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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