VIRAMUNDO 11 –
Zé Mineiro é um amigo de longas datas. Forte, torado no grosso como se diz no sertão, usa chapéu, dança, canta coco e embolada. Serviu o exercito, na marra e não gostava quando ouvia a ordem “direita volver” que ele confundia com direita vou ver. Como esquerdista essa ordem era uma afronta.
Formou-se em Agronomia e foi trabalhar no interior, conhecendo a terra e suas possibilidades. Se deu bem. Conheceu uma professora, casou e teve dois filhos, um deles também faz Agronomia seguindo a carreira do pai que está se aposentando. Zé, também conhecido como Zé do Coco, gosta de se exibir, cantar e falar poesias sertanejas. Mas seu esquerdismo tem atrapalhado um pouco, na medida em que ele discute sobre política. Perdeu alguns contratos por conta disso. Agora deu pra beber, todo dia e separou da mulher. Arranjou uma namorada que pensava que ele era rico, tinha dinheiro, afinal era “doutor” Zé Mineiro, cantor, embolador e pequeno fazendeiro. Isso no sertão é muita patente. Depois ele descobriu que a moça fazia parte de um grupo chamado LGBT e ai ele deu o fora. Arrependido, tentou voltar pra mulher que não o quis mais. Tava namorando outro. Endoidou. Se aposentou e ficava dia todo bebendo e aprendeu a jogar baralho. Coisas que no sertão os machos só fazem isso.
Então eu perguntei a ele se valeu a pena todo esse trabalho e ele, na bucha, respondeu: – Claro que sim. Sou formado, tenho uma razoável aposentadoria, sei cantar, dançar e ainda dou no couro. O que eu quero mais, na vida?
Parou de ler, estudar e cuidar da terra como fazia anteriormente. Mas de vez em quando ensina o filho em alguns problemas. Não usa celular e computador muito pouco. Tá com a vida que pediu a Deus: beber, dançar, cantar, jogar e namorar.
– Zé quem é seu maior ídolo?
– João Paulo Stédile, o maior conhecedor de terras deste país.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.