VIRAMUNDO 113 –

Emanoel de Jesus Medeiros nasceu em Currais Novos, terra da scheelita, no interior do Rio Grande do Norte.

Tinha vocação para ser agricultor e ajudava o pai na lavoura.

Cuidava das cabras que o velho criava num sitiozinho ao lado da fazenda e ele pouco ia a escola.

Levara todo dia 50 litros de leite de cabra pro hotel que Thomaz Salustino Neto mantinha na cidade para receber turistas e empresários interessados em conhecer a cidade e fazer negócio com os minérios.

Um dia conheceu Sebastiana, filha mais nova de se Joaquim, mineiro de scheelita e se apaixonou por ela.

Tiana, seu apelido, era muito ciumenta e acompanhava Emanoel aonde ele fosse.

Uma vez ele deu carona pra Suely, a cunhada preferida, até Santa Cruz, pra buscar uma ervas pra fazer chá pra dona

Olga, avó de Emanoel, religioso e devoto de Nossa Senhora de Nazaré.

– Sem o chá da minha vó eu não vivi.

– Chá de que, Manu?

– De mastruz.

– Mas aqui em Currais Novos tem.

– Mas eu prefiro o de mãe Terezinha, de Santa Cruz.

– Tiana vai também?

– Não. Só nós dois.

– Ela vai ficar com raiva, viu?

– Não tem problema. Tô chateado com ela. Vamos?

E foram os dois no jipe do pai.

No caminho Manu e Suely conversavam alegremente e Mmanu confessou que gostava mais dela do que de Tiana.

– Por que?

– Porque você é mais calma, tranquila e mais bonita. E sem namorado é melhor ainda.

– Não. Eu tenho namorado. É Fernando, sobrinho de seu Thomaz. Ele estuda em Natal e vem aqui uma vez por mês.

– Mas você gosta dele?

– Sim. Mas não é essas coisas toda, não. As vezes nem lembro dele.

– Pois é. O amor é como uma plantinha. Se não ficar agonizando, ela morre.

– Nossa. Ta ficando poeta.

– É que sua beleza me inspira a ser poeta.

Chegaram a Santa Cruz e foram tomar café na casa de mãe Terezinha e pegar mastruz, louro e outras ervas pra vovó Olga fazer chá.

Mas o mais gostoso foi o passeio dos cunhados

– Sabe Sú, eu queria mesmo era ficar com você.

– E Tiana?

– Vou terminar com ela e ficar com você.

– Você sabe se eu quero?

– Sei. Sinto no brilho do seu olhar.

Manu brigou com Tiana e ficou com Suely que nem deu bolas pro Fernando

Um dia seu Fausto, o avô de Manu e marido de vovó Olga precisou se internar no hospital em Caicó e Dona Olga foi fazer companhia.

Chegou ao quarto e viu o marido nu em cima da cama.

– Que coisa horrível é ver Fausto nu.

– Ô vovó, a senhora teve 11 filhos e nunca viu vovô nu?

– Não. Nunca.

– E como vocês faziam?

– Debaixo dos lençóis.

Manu riu e perguntou:

– E agora vovó, vai ser tudo as claras, sem lençol?

– Não. Deus me livre. Quero mais não. Coisa feia .

– Pois eu e Suely a gente não usa lençol.

– Coisa mais sem graça. Isso é safadeza.

Manu e Suely tiveram 1 filho só. E Ricardinho veio estudar em Natal, no Marista.

Ficou morando na casa da tia Carmelita, muito rigorosa.

Ricardinho estudava muito e aprendeu a tocar piano com tia.

Era ele quem animava as festinhas da família e mamãe Suely tinha o maior orgulho do filho querido que, com 19 anos foi pra Itália com a bolsa de estudos que ganhou do irmão Teófilo vice-diretor do colégio, que gostava muito dele.

Manu e Suely viajaram pra passar uns dias na terra do Papa João 23 e voltaram cheios de ideias.

Montaram uma loja de artigos religiosos e diziam que eram abençoados pelo Papa.

Na entrada da loja havia uma foto enorme deles com Suely beijando a mão do Papa. Um sucesso.

Com a chegada de Ricardinho papai Manu comprou um belo piano e foram morar numa ampla casa em Ponta Negra com vista para o mar.

Trouxeram vovó Odete pra passar uns dias por aqui e ela adorou o mar, que não conhecia, e foi beber água para experimentar.

– Nossa, como é salgada. Esse marzão é todo assim?

– Sim, vó. Por isso que a água é limpa.

Ela não entendeu nada.

Ricardinho voltou pra Itália e casou com Ludmila que veio ter filho na Maternidade Januário Cicco.

– Meu filho tem que ser brasileiro, nordestino e natalense.

Dizia ela feliz da vida

Uma tarde de sábado encontrei a família almoçando no hotel Holliday Inn de Ponta Negra, degustando um prato especial preparado pelo Maitre Dom Eldo e pergunte a Manu:

– Em quem vocês se inspiraram para viverem assim?

– Romeu e Julieta.

 

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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