VIRAMUNDO 115 –

Zé Raimundo saiu de Acari, uma das cidades mais limpa do Rio Grande do Norte e veio morar em Natal com 14 anos.

Inteligente e curioso foi procurar emprego.

Não conhecia nada na cidade grande mas foi aprendendo os sinais de trânsito, as ruas largas e a sujeira nos becos, ruas e avenidas.

Na sua querida Acari não tinha nada disso.

Andar de ônibus foi outro tormento. Zé tinha medo de tudo. Do barulho dos carros, da multidão apressada do Alecrim e do tumulto nos dias de jogo no Estádio Juvenal Lamartine.

Passou a gostar do ABC, um time de futebol de Natal e comprou uma camisa com o escudo do time e aprendeu a cantar a música composta por Dosinho, compositor das antigas.

– Zé, qual jogador você mais gosta no ABC?

– Alberi. Tão bom quanto Pelé.

– Vige, tudo isso?

– Sim. Gostei quando um diretor do time renovou o contrato deve com uma radiola e discos de ….

O primeiro trabalho de Zé Raimundo foi numa repartição pública, como auxiliar de serviços gerais.

Só não gostava de limpar banheiro.

O chefe dele, seu Adonias deu um jeito e colocou ele numa escola particular onde dona Narcisa castigava os alunos com palmatória.

– Não bata no Zé. Se ele não se comportar direito a senhora me diga que eu dou o castigo nele.

Era o único aluno que não apanhava, e as vezes até merecia.

Zé aprendia rápido e foi crescendo no trabalho. Todo mundo gostava dele.

Em pouco tempo foi promovido e o diretor pagou escola de datilografia pra ele ir se acostumando a trabalhar no escritório da repartição.

Na escola participou de concursos e ficou feliz quando ganhou um, de redação.

Zé, na prática e na simplicidade ia ganhando oportunidades e aproveitando todas.

Foi trabalhar em um hotel e aprendeu tomar conta de pessoas. E na medida em que ia recebendo ordens do diretor, analisava as possibilidades de acerto e colocava, sempre, seu ponto de vista, infalível e dava certo.

– Zé, quero que você prepare o salão de festas para o Reveillon de semana que vem.

– Sim, seu Fernando. O senhor quer, como?

– Taquí o mapa, não mexa nele. Execute.

Zé fez tudo direitinho conforme o mapa mas do dia da festa, uma colunista social, mudou a arrumação das mesas e Zé não gostou.

– Dona moça isso não vai dar certo.

– Não se meta. Quem manda aqui sou eu.

A mudança que a dona moça fez, não deu certo.

– Zé o que deu errado?

– Sua colunista social mudou a planta, dei errado e eu não vou concertar, prefiro que o senhor me mande embora, mas não vou fazer nada. Mande sua colunista refazer ou mande ela embora que eu ajeito.

Seu Fernando botou a mão na cabeça e dispensou a colunista que pediu desculpas ao Zé, que não a desculpou e se tornaram inimigos.

Zé ficou morto de cansado e a festa de Reveillon de seu Fernando foi um sucesso.

Zé Raimundo teve três casamento e agora, por último casou com Bernadete, 30 anos mais nova. Teve 5 filhos dos casamentos anteriores e com a vasectomia que fez pode namorar a vontade que não engravida mais ninguém.

Encontrei Zé e Bernadete almoçando no Tábua de Carnes de ponta negra e pergunte:

– Zé, em quem você se inspirou pra viver assim?

– Em Sebastião Fernandes.

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube

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