VIRAMUNDO 116 –
Manoel Felipe era um gozador vindo de Açu, bela cidade do interior do Rio Grande do Norte e campeã na produção de frutas para exportação.
Adorava os poetas, cantadores de viola, cordelistas e repentistas.
Inteligente foi aprendendo com esse povo a arte de contar histórias hilariantes.
Criou seu próprio estilo de se apresentar. Roupa simples, de sertanejo e chapéu de palha, Mané Felipe ia arrumando sua barraca de artesanato, cantando loas e contando causos engraçados fazem o público rir com suas brincadeiras.
– Mané, de onde você tira essas histórias engraçadas.
– Aqui da cachola. Não sou burro não, véio.
– Pois conte aquela do Prefeito que era corno.
– Não era corno não. É que quando o “caba” não me atende eu chamo ele de corno.
– Na frente dele?
– Não, rapaz, você acha que doido?
E assim Mané Felipe ia ganhando fama com suas estripolias.
Irrequieto e namorador, toda vez que encontrava ele, tinha uma mulher diferente.
– Essa daí é Sofia, de Umarizal. Braba que só siri dentro duma lata.
– E você não tem medo de levar uma surra dela, com ciúme?
– Tenho.
– E o que você faz?
– Trato bem. Eu chamo de “amor” pra não falar o nome de outra mulher.
– Como assim?
– Por que as vezes eu esqueço o nome dela, aí eu chamo de “amor” e ela bom.
Convivendo com outras namoradas, pra não ter problema com elas o tratamento era esse mesmo.
Mané Felipe não tinha lugar certo pra ficar por muito tempo.
Inventivo, ele armava o circo em qualquer lugar.
Falava com o Prefeito das cidade do interior e armava seu circo na periferia.
Seu principal negócio era o artesanato. Armava a barraca, e com microfone e uma caixa de som, fazia a festa.
Teve 3 filhos. Cada um coma mãe diferente.
– Você teve quantos filhos, Mané?
– Nenhum. Só ajudei a fazer os “bixim”. Elas é que tiveram.
– Por que você não faz vasectomia?
– Fazer o que?
– Vasectomia.
– Sei lá que diabo é assa bexiga.
– É um procedimento médico que provoca esterilização masculina e aí ele pode transar a vontade e não engravida a mulher.
– Vots quero isso não! Posso ficar broxa pro resto da vida
– Não, Mané, isso não tem nada a ver.
– Esse negócio de esterilidade é coisa de mulher.
E a vida segue tranquila com Mané Felipe fazendo seu trabalho nas cidades do interior.
– Por que você não fica em Natal, fixo, pra cuidar dos “bixim”?
– Não consigo passar mais do que seis meses num lugar. E os “bixim” que cuida são as mães deles. Menino nasceu, já pego outra “mulé”.
– E é fácil assim?
– Demais, tem mulé de ruma dando sopa por aí. Cada uma melhor que a outra.
Encontrei Mané Felipe tomando cafezinho com Zé Carlos em Satélite acertando a participação dele num evento comunitário na Praça Mãe Peregrina e perguntei:
– Seu Manoel Felipe…
– Me chame de Mané Felipe, não gosto de formalidades.
– Tá bom. Em quem você se inspirou pra ser assim?
– Em Paulo Varela.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube
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