VIRAMUNDO 122 –
Afonsinho cantava muito e especializou-se em boleros.
Quando veio pra morar em Natal ficou um tempo morando no Albergue noturno de Petrópolis, ali no início da Avenida Cordeiro de Farias e chegou a pedir esmolas e com o dinheirinho arrecadado ia almoçar no Restaurante Barriga Cheia, das Rocas pagando 1 real pra almoçar.
Ficava vagando pela ruas e conheceu Zé Manteiga, um mendigo que também gostava de cantar.
– Afonsinho donde tu és?
– De Alexandria.
– E veio pra cá, por que?
– Lá é muito ruim. Não tem trabalho. Você só tem duas coisas pra fazer: jogar baralho e raparigar.
– Mas, você canta. Não deu pra ganhar um dinheirinho não.
– Não. O pouco que arranjei vim pra cá, tentar a sorte.
Zé Manteiga tinha um violão velho mas dava pro gasto, formaram uma dupla e foram cantar nos cabarés da Ribeira.
Afonsinho se destacava, pois tinha uma bela voz e com o tempo foi ficando sozinho.
Zé Manteiga bebia muito e gostava de jogar e quando perdeu o violão na casa de jogo, voltou a pedir esmola pra beber.
Morreu de cirrose.
Enquanto isso Afonsinho ia ajeitando-se na vida, antando cada vez melhor.
Um dia chamaram ele pra cantar no Clube do América, mas foi um pedido de cantar lá porque os sócios não queriam “cantor de cabaré” entre a elite da cidade.
Era a chance de ganhar um dinheiro bom, mas perdeu para o preconceito dos americanos.
Chorou e pensou em desistir até que Marieta, uma dona de cabaré nas Quintas, aconselhou a sair de Natal.
– Você a Recife falar com Flavinho que é agente de Reginaldo Rossi e muito meu amigo. Já fomos namorados e nos damos muito bem.
Flavinho recebeu Afonsinho com muita alegria e levou-o direto pra gravadora onde ele iria fazer um teste.
Foi contratado e sua primeira apresentação foi numa boate em Boa Viagem
Do cabaré da Ribeira em Natal, pra Boate em Boa Viagem em Recife, foi um salto enorme.
Uma noite Nelson Gonçalves, entre um uísque e outro, viu Afonsinho cantando e levou-o pra São Paulo onde gravou seu primeiro sucesso: Maria Helena.
Ficou morando em São Paulo e lançou seu primo disco: “Boleros com Afonsinho”, o Rei dos Salões.
Voltou a Natal como o maior cantar de boleros dos últimos tempo e Gilvan, do Trio Irakitan, convidou pra cantar juntos no México.
Quando esteve aqui em Natal recebeu convite pra cantar no Clube do América e ele recusou.
– Diga aos americanos que eu sou ainda o “cantor de cabaré”.
– Mas Afonsinho é uma grana preta. Você não vai querer?
– Não. Pensa que esqueci a humilhação que eles me fizeram? Quase desisti da carreira. Se não fosse a Marieta eu tava fudido.
– É, você tem razão.
Afonsinho fez shows na Assen, no Aero Clube e no estádio de futebol, Juvenal Lamartine.
Consagrado, ele foi cantar em quase todos países da América do Sul e foi em Nova York sua maior emoção.
Nelson Ned o chamou pra cantar com ele no Holliday Plaza, onde recebeu o primeiro disco de ouro da sua carreira.
Casou com Marilene Segantin, de origem italiana, passaram um tempo na Itália e tiveram dois filhos: Afonsinho Junior e Priscila
Voltou pra São Paulo, depois de cinco anos e retomou a carreira, sendo escolhido o “bolerista do ano” no programa do Raul Gil e ai não parou mais de fazer sucesso.
Num programa de TV participou do quadro “pra quem você tira o chapéu e detonou o Clube América, de Natal não tirando o chapéu e falando da humilhação sofrida por ele no inicio de carreira.
Cantou no programa e o público foi ao delírio.
Encontrei Afonsinho com a mulher e os filhos almoçando no Mexilhão restaurante de alto luxo, em São Paulo e perguntei:
– Afonsinho em quem você se inspirou pra sua carreira:
– Altemar Dutra.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube