VIRAMUNDO 133 –
Expedito Barscho, de tradicional família paraibana, nasceu em Maxaranguape pelas da parteira Mãe Luiza, abençoada mulher moradora da praia da Redinha, em Natal.
Aos cinco anos Expedito veio morar em Natal no bairro da Lagoa Seca, com a família.
O pai, se Francisco das Chagas, o Chaguinha, tinha uma banca de frutas no CEASA, principalmente abacaxi, vindo de Mamanguape, considerado uma delícia de fruta disputadíssima entre os clientes.
Expedito ajudava o pai, junto com mais dois irmãos mais velhos e nas horas de folga pegava um papel e um bastão pra desenhar, lá mesmo na Ceasa.
A principio desenhava frutas e presenteava os clientes com suas “obras de arte”.
A mãe, dona Gessilda, incentivava a arte do filho, comprando na livraria material pra Expedito trabalhar em casa.
Ele assinava Dito, nas peças e colocava o ano do feito, como uma espécie de verificar a evolução da sua arte com o passar do tempo.
A princípio presenteava os amigos, depois começou a vender os quadros a preços módicos, “pra não assustar” e com o dinheiro arrecadado Dito comprava material.
Deixou de ajudar Chaguinha no Ceasa e passou a se dedicar a pintura, fazer poesia e foi trabalhar na Tribuna do Norte, principal jornal da cidade, onde publicava contos e comentários.
Pintava e escrevia bem e passou ser conhecido e respeitado nas rodas intelectuais.
Saia da redação do jornal e invariavelmente era encontrado no Beco da Lama tomando meladinha no Bar do Nazir, em meio a sambas e forrós tocados na vitrola da casa.
Foi se acostumam e virou vício.
Nesse ambiente festivo, de vez em quando pintava e trocava as pinturas por meladinha.
– Dito que diabo é essa tal meladinha?
– Ah! Mãe, é cachaça com mel. A gente pega o copo e um tridentezinho pra mexer e bebe.
– É bom esse negócio?
– Sim. Ninguém faz meladinha igual a do Nazir. Não sei qual o mistério.
Dito chegava em casa, invariavelmente bêbado, e a mãe só ia dormir quando ele chegava, muitas vezes trazido por amigos.
Um problema.
Gostava de futebol e certa feita fez um coleção de pinturas usando o futebol como tema e expos na Rua Tavares de Lira, na Ribeira, numa barraca perto do Rio Potengi.
Um sucesso. Vendeu todo os quadro e foi gastar o dinheiro no Beco da Lama, entre os “amigos”.
Juntou um dinheirinho e ganhou do governador da época, passagens para conhecer Paris, seu grande sonho.
Aproveitou e foi conhecer de perto as obras de Toulouse-Lautrec Renoir entre outros.
Veio na ideia pintar uns quadros, nas ruas próximas a Torre Eiffel e ganhou um dinheiro.
Uma tarde viu passar um casal de mãos dadas, displicentemente e os reconheceu.
Chamou pelo nome: Deputado Djalma Marinho. Falou em voz al e o Deputado até assustou-se.
Quando se virou reconheceu Dito e a alegria foi grande.
– É uma sensação de prazer, ouvir seu nome na rua, no exterior.
– Oh! Se é. Dá uma sensação agradável.
Depois de três meses na França, Dito volta a Natal, triunfante.
Histórias e que não faltam, nas rodas com os amigos, principalmente nas meladinhas do Nazir, no Beco da Lama
Dito virou alcóolatra e as vezes era encontrado bêbado, dormindo nos bancos da praça no Grande Porto, centro de Natal, e amigos o levavam pra casa.
Dito era muitas vezes chamado a participar de saraus e para prefaciar livros de poetas, principalmente os de Açu.
Gostava de viajar ao Recife em companhia de amiguinhos e se hospedava no Hotel Guararapes de onde tirava inspiração para pintar retratando a beleza dos lugares pernambucanos.
Dito era muito ágil, tinha muitos amigos e escrevia também com muita qualidade.
Não curtia mulheres, mas casou comum a mais velha, que serviu pra cuidar dele, principalmente quando adoecia, o que passou a ser frequente depois do 60.
Sofria com os efeito da Cirros e o encontrei no Hospital da Polícia Militar, já nos seus últimos dia e numa dessas visitas o perguntei:
– Expedito, em quem você se inspirou pra viver?
– Newton Navarro.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube