VIRAMUNDO 16 –
Dona Cícera Medeiros, ou simplesmente Cicinha, vende legumes num carro de mão conduzido pelo seu filho de 16 anos percorrendo as ruas do bairro aos domingos, terças e quintas feiras. É um berreiro só. Garganta de aço. Na outra rua a gente ouve as ofertas de “olhe o feijão verde”, “salcinha”, “cebolinha” e por ai vai. Ela grita, o menino pára o carrinho de mão e a freguesa no portão do muro da casa, compra.
Dona Cicinha é uma mulher baixinha, gordinha, usa um boné pra se aliviar do sol e usa um tênis sem meia.
– Dona Cicinha a senhora não cansa, fazendo esse trabalho todo dia?
– Não meu fio. Saio de casa bem cedinho, vou ao Ceasa e compro meus moin de cuentro, cebola e outras coisas que minha freguesia quer. E não é todo dia. Somente 3 vezes por semana. Já tenho freguesia certa.
– E pra que esses gritos?
– Pra chamar atenção, ora essas. Aprendi com o vendedor de picolé Caicó e com o cocorococó das galinhas. Se você não grita o que faz, não pode se queixar. Esse é meu lema.
– E esse seu filho é de menor. Ele não pode trabalhar.
– Quem disse isso? Ele me ajuda desde os 12 anos. Um dia ele vai ser dono de supermercado, pelo sangue de Jesus.
Aí se benze três vezes. Falei com ele, Zé Carlos, menino bonito, calado, seguindo a mãe, com seu carrinho e usando luva de pano grosso pra não calejar as mãos.
– Zé, dona Cicinha paga quanto por esse trabalho?
– Mainha me dá 5 reais. Eu junto esse dinheiro e no fim do mês vou lanchar cachorro quente com coca cola. E aprendo com ela, a vender.
– Dona Cicinha, quem é o seu ídolo?
– Seu Jurandir, do Nordestão.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.