VIRAMUNDO 171 –
Edivaldo Barros foi surpreendido aos nove anos quando foi estudar no Salesiano, da Ribeira.
Colégio pra filhos de ricos, mas perto da oficina onde o pai, marceneiro, trabalhava.
Era fácil. Saia de manhã cedo e voltava na hora do almoço.
A rotina era chegar cedinho na capela, vestir a batina preta e ia ajudar a missa do Padre Luiz Santiago.
Era em Latim, a missa. Depois ia pro café no refeitório. Uma enorme mesa com tudo de bom.
Café com leite, tapióca, bolo de milho, sanduíche de presunto, coalhada e até queijo do reino.
Aquilo tudo era uma festa que não tinha em casa.
– Mãe, esses padres comem muito bem. Não falta nada.
– Pois é meu filho. Estude pra ser padre. Vou ficar muito feliz.
– Não mãe. Padre não pode casar, senão eu topava ser padre.
Mas o sonho do menino Barrinho era outro.
Estudar pra ser professor, escritor, poeta, sei lá.
Se comunicar.
Na adolescência foi trabalhar no comércio e estudar no Senac.
Adorava poesia. Lia Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Carlos Drumond de Andrade, o assuense Zé Areia e outros.
Conheceu Betinha, na escola, e fez esse verso pra ela:
“QUERO MERGULHAR NO SEU CORPO E PELOS PÉS SAIR EM PASSEATA”.
Betinha foi sua apaixonada namorada por muito tempo.
Barribho era muito estudioso e gostava de ler os clássicos.
Ela falava que Platão inventou o amor platônico e dizia que você ama uma pessoa sem ela saber.
Viaja, sonha, sente saudade e quando consegue não quer mais.
– Barrinho isso não existe. Que loucura.
– Isso é amor platônico
De manhã estudava no Senac, a tarde trabalhava no comércio e a noite ia namorar.
Passou a escrever poesias e uma vez o artista potiguar Newton Navarro publicou um elogio a ele no jornal
Tribuna do Norte . Barrinho ficou muito feliz e saiu mostrando o jornal pra todo mundo.
Foi trabalhar em jornal e se engajou na redação em meio ao barulho das máquinas de datilografia, fumaça de cigarro e garrafa de café nas mesas dos redatores.
Escrevia muito e nas horas vagas ia tomar cerveja e fazer poesia.
Chegou a lançar seis livros: 3 de poesia, 1 de sobra a sua família e 2 de causos.
Casou com Roberta, sua antiga namoradinha, tiveram 3 filhos, 5 netos e 1 bisneta.
Morou, trabalhando muito no Rio, São Paulo, Goiânia, Aracaju e voltou a Natal pra lançar uma revista de Informática e fazer programas de entrevistas para o YouTube.
Adora política, mas não se deu bem.
Candidatou-se uma vez a Deputado Estadual e recebeu 92 votos e um prejuízo de 5 mil reais.
– Nunca mais eu entro nessa.
Barrinho hoje é um homem solitário, continua escrevendo,vc vive de uma pequena aposentadoria e curte suas amizades contando histórias da sua vida.
Encontrei ele na Praia da Redinha, com uma amiga tomando cerveja, comendo caranguejo, num domingo de manhã e perguntei:
– Seu Edivaldo, em quem o senhor se inspirou na vida profissional?
– Cassiano Arruda.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para YouTube