VIRAMUNDO 173 –
Samuel Soares tinha uma mania de usar roupa verde oliva com as letras SS maiúsculas bordadas na manga esquerda da camisa de mescla grossa.
Tinha cabelos compridos e usava uma tira vermelha na testa, prendendo os cabelos negros.
Estudava no Atheneu, de manhã e gostava de fazer greve com os estudantes e passar sabão na linha do trem, principalmente na subida da Ribeira, pra eles ficarem patinando e atrazasse a viagem.
– Sapucaí faz isso não. E sacanagem!
– Não. Isso é greve dos estudantes.
– Por quê?
– Porque queremos passagem de graça.
Os alunos do Atheneu e da Escola Municipal adoraram essas greves.
Sabiam que não iam dar em nada, mas era gostoso fazer bagunça na cidade.
Samuel era muito amigo de Pecado, um líder estudantil da época e ficava aplaudindo as atrocidades de Fidel Castro e Mao TSE Tung, ditador chinês.
Viviam vadiando e eram geralmente suspensos do colégio.
Politicamente incorretos, Samuel e Pecado viviam atazanando a vida dos estudantes das escolas públicas e sendo chamados a atenção das escolas particulares.
– Samuca essas iniciais SS lembram a polícia de Hitler na segunda guerra.
– Mas são as iniciais do meu nome, ora: Samuel Soares.
– O Soares vem de onde?
– Da minha família. Meu pai era o Sargento Soares, da Polícia Militar da Paraíba.
Como paraibano Samuca não
Gostava de se apresentar.
Desde pequeno mora em Natal onde o governador Dinarte Mariz convidou seu pai pra vir morar em Natal na década de 50.
Começou estudando no Marista, depois foi pro Atheneu passando pouco tempo pelo Ginásio 7 de Setembro, escola muito ordeira pro gosto do Samuca
– Você gostou do Atheneu?
– É mais livre e sem Frescuras.
Samuca gostava mesmo era da farra.
Não trabalhava e vivia da mesada do pai que não ligava muito pra ele.
Arranjou uma namorada que estudava na Universidade e era amiga do gerente da livraria do Campus.
Marieta, moça simpática e muito estudiosa, em nada se parecendo com Samuca.
– Os diferentes se atraem.
Ela conseguiu um emprego pra ele na livraria e ele passou a gostar de ler, principalmente os livros de guerra e autores Russos.
Gostou muito do Crime e Castigo, de Dostoievski.
Formou-se em Direito e foi trabalhar com um Advogado Criminalista, como estagiário, e conheceu de perto o mundo do crime, as histórias principalmente dos ladrões.
Pegou o caso de um famoso ladrão de banco e ganhou a questão o que o tornou sócio do escritório.
Dr. Samuel casou com Marieta, formada em Psiquiatria, especialização que o ajudou muito como advogado.
Prestou concurso pra Juiz e foi fazer especialização em São Paulo e tornou-se amigo do Delegado Fleury, famoso na época e muito rigoroso com a bandidagem.
Aprendeu muito e montou seu próprio escritório de advocacia.
Quando Marieta teve o primeiro filho, Samuca estava em Portugal, fazendo uma especialização na Universidade em Coimbra e só conheceu o filho dois meses depois de nascido e ele pediu pra colocar o nome de Samuel Soares Filho.
– Será um grande Delegado da Polícia Federal, se Deus quiser.
Marieta, Samuca e Samuquinha formavam uma família equilibrada e feliz.
Ele costumava conversar com os amigos e comentava sobre as greves estudantes do tempo dos trens municipais.
– Quem me salvou foi a Marieta.
Encontrei os três jantando no Midway depois do show de Zezo no Teatro Riachuelo e perguntei:
– Samuel em quem você se inspirou pra sua vida profissional?
– Maurilio Pinto.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para YouTube
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