VIRAMUNDO 187 –
Adoniran Soares vivia dentro de farmácia tentando ajudar o pai, seu Sebastião.
Pegava os remédios e tinha a mania de ler as bulas.
– Pai, esse remédio não presta.
– Por que, meu filho?
– Tem mais contra indicação do que indicação.
– É assim mesmo. Faz parte dos cuidados de quem fabrica.
Dando-nos se dava bem com os propagandistas vendedores dos laboratórios.
Ele sabia que os propagandistas visitavam os médicos pra entregar amostras grátis dos remédios pra eles prescreveram aos pacientes.
Quando ele se deparava com um deles que trabalhava com Laboratório que tinha remédio “que não prestava” pelo excesso de contra indicação era uma discussão danada.
Era preciso seu Sebastião intervir.
– Pára com isso Dondon. Quem tem que saber é o médico
Mas Adoniran tinha um sonho: ser propagandista vendedor de Laboratório.
Teve sua chance num escritório de representações e sem nenhum treinamento pegou a mala de amostra grátis e foi a luta visitar médicos.
Não sabia nem como entrar no consultório e ficava prestando atenção aos colegas na sala de espera.
Entrava junto e aprendeu vendo como se faz uma visita.
Comprou um Vademecum – dicionário de termos médicos e foi decorando expressões.
Com o tempo foi indicado pra trabalhar num Laboratório importante.
Foi ao Recife receber treinamento e voltou craque no trabalho.
Agora não tinha mais medo de médicos.
Recebeu um fusca da empresa, porte de arma e material de trabalho e foi viajar, visitando médicos e farmácias pelo interior do Estado.
Experiência nova, muita ansiedade e a conquista de muitos amigos.
Programava as viagens pra chegar em Mossoró sempre as sextas feiras no final da tarde.
Ficava no Hotel Esperança e a noite caia na ganhava.
Só iria trabalhar mesmo na segunda feira.
Fazia bon negócios e seu prestígio na companhia aumentava com a cobertura de vendas todos os meses.
Aí conheceu Rosinalda, entre tantas namoradas, que se apaixonou e foram morar juntos em Parnamirim.
Ela continuou trabalhando na farmácia do seu Geraldo até engravidar.
– Agora você vai se cuidar e quando nosso filho nascer, não precisa voltar a trabalhar.
– Adoniran, você sabe que trabalho desde pequena.
– Mas você vai ter outro tipo de trabalho: cuidar de filho.
– Tá certo. Será que vou dar conta?
– Vai. Mãe é mãe, o resto é pai.
Rosinalda, grávida, e Adoniran viajando a trabalho mas em Mossoró se perdia na ganhava e cheio de namoradas.
Um dia botaram, sem ele perceber, uma calcinha preta dentro da mala de Dondon quando ele voltava pra casa.
Quando a mulher abriu a mala pra arrumar a roupa dele, a confusão foi armada.
Foi preciso uma reunião dos viajantes para pedir desculpas pela”brincadeira”.
Adoniran foi perdoado, mas Rosinalda ficou com pulga atrás da orelha.
Em paz, esperaram Vicentinho nascer e depois veio Marieta, consolidar o casamento deles.
Nas férias, Adoniram, Rosinalda, Vicentino e Marieta fizeram uma viagem a Jeriquaquara, linda praia do litoral cearense.
Encontrei-os na peixada do Pedrão, almoçando e entre uma cerveja e outra, perguntei:
– Adoniran, em quem você se inspirou pra sua vida profissional?
– Salarial Silva.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para YouTube