VIRAMUNDO 20 –
Francisquinho de Jesus Belarmino era um visionário. Suas ideias preenchiam as necessidades para enriquecer e salvar o país de catástrofes, principalmente, as financeiras. Tinha mania de conversar com professores sobre investimentos e muitas vezes os aconselhavam a investir na bolsa de valores. Orientava e ajudava a todos quanto os procurava, sem cobrar um tostão. Tudo de graça. Ficava feliz com isso. Aí voltava pra casa de ônibus.
Um dia conversando com seu Antonio, velho marceneiro, sugeriu a ele botar uma loja de móveis na rua central da cidade, onde passava muita gente. Desaconselhava ir para o shopping, por que os custos eram grandes o qe reduzia seus lucros.
– Mas Francisquinho, eu só sei fazer móveis. Não entendo nada de administração. Não dá. A ideia é boa, mas não tenho condições.
– Seu Antonio, é simples. É só seguir a Lei Trabalhista que dá certo.
– E o capital? Precisa muita grana pra montar uma loja de móveis.
– Isso a gente arranja no banco. Não é problema.
Quando ele faleu “a gente” seu Antonio se assustou: – como? O senhor quer entrar no negócio?
– Não, só orientar. Uma espécie de assessor.
E Francisquinho ia dando exemplos, falando de cadeias de grandes lojas, de empresários inteligentes, ousados, enfim foi ilustrando seus pensamentos.
Seu Antonio foi seguindo os conselhos, vendeu a casa, alugou um espaço grande e montou a loja: Oriente Móveis.
Contratou pessoal, comprou uma caminhoneta para fazer entregas e inaugurou a loja no dia de Reis, em homenagem aos três Reis Magos que levaram presentes para o menino Jesus.
Só tinha uma qu3stão. Os Reis Magos não vendiam os presentes, levaram de graça.
– Mas aí seu Antonio, aquilo era pra dar sorte. Dizia aFrancisquinho incentivando o amigo.
– Mas eu não quero dar nada de graça, quero é vender, entende?
E a vida foi passando, os negócios sendo feitos e logo abriu uma filial. Francisquinho já projetava mais duas lojas, uma em cada cidade vizinha.
Mais empréstimos no banco a juros abaixo do mercado, numa jogada feita com o gerente.
– Isso não vai dar certo. Seu Antonio costumava alertar.
Francisquinho foi homenageado pelo comercio local como um homem inteligente e rico, saindo em capa de jornais e foi até eleito o “homem do ano”.
Seu Antonio quebrou. Muitos funcionários sem carteira assinada botou ele na justiça do trabalho, as contas começaram a atrasar, enfim, faliu e fugiu da cidade com a família. Perdeu tudo.
Sobrou pra Francisquinho que, como assessor e principal responsável pelos investimentos, não tinha respaldo nenhum para honrar compromissos assumidos em nome do amigo. Acabou preso.
Perdeu a mulher, linda, para um delegado de polícia e ficou falado na cidade. Encontrei-me com ele, conversamos, e perguntei: – Quem é o seu ídolo?
– Eike Batista.
Fui conversar com ele e a resposta foi que a crisemigo.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.