VIRAMUNDO 22 –

Beró era o apelido de Beroaldo Damasceno de Brito, nascido em São Rafael e estudioso de filosofia, matemática e geofísica na Universidade Federal. Andava pelas ruas cantando baixinho e se apaixonava pelas meninas da escola.

– Eu me apaixono por elas, mas quando elas descobrem, acaba tudo. Nunca consigo nada mesmo.

– Mas por que não dá certo?

– Sei lá. Acho que elas não acompanham meus raciocínios. Incompatibilidade total.

Segundo Beró as mulheres são burras. Não sabem nada sobre matemática, principalmente.

– Qual é o seu tipo de mulher?

– Loira, olhos azuis, magra, alta e maquiada. E que não use calça rasgada no joelho.

– Na Universidade tem muitas assim, mas se distanciam de pessoas como eu.

O problema é que Beró só vestia camisa de manga comprida e gravata com uma agenda preta debaixo do braço, parecendo aqueles crentes que andam nos corredores perturbando as pessoas.  Ele, sim, é que era incompatível. Mas…..

– Beró veja como você se veste. Desse jeito não consegue atrair ninguém, principalmente as loiras, altas, de olhos azuis.

– Sou assim mesmo. Quem quiser me aceitar, tem que gostar de gente séria como eu.

Ele era assim mesmo. Exigente e na sala de aula costumava discutir conceitos com os professores. Ninguém gostava disso e algumas vezes ere pedido para sair da sala.

– Tá vendo? É nisso que dá ser inteligente acima da média. Tenho que baixar meu nível para ficar igual aos colegas e isso me irrita.

Ele era formal demais. Não usava tênis, nem jeans, nem camisa polo de malha, só social, cafona, com camisa ensacada feito dindin e calça folgada, geralmente azul marinho.

– Hoje quero estudar trigonometria mas não tem com quem. — Aí Lili, uma menina da classe, me disse que não gosta de massas, por isso não sabe nada sobre trigo. Pode? Não sei como ela passou no vestibular.

A casa de Beró era um quartinho que ele alugou em Mirassol, vizinho da Universidade e ele ia caminhando até a sala de aula, num bloco distante. As vezes usava o ônibus circular, que era de graça.

Não gastava dinheiro. O que o pai mandava só dava pra comer sanduiche de mortadela com grapette. Não tomava café de manhã nem jantava.

– Tô guardando uma graninha pra comprar uma moto, no fim do ano. Aí tu vai ver arranjar uma namorada. Mulher é tudo igual, só tem interesse.

– Beró, quem é seu grande ídolo?

– Platão.

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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