VIRAMUNDO 32 –

Ranilson Santana nasceu nas Rocas, mais precisamente na Ra do Areal e passou  a conviver com muitos jogadores de futebol do local. Erivan, o goleiro baixinho, Piaba o zagueiro grosso, Cocó o cabeceador infernal, Saquinho, o centro-avante driblador e artilheiro e Otávio, ainda vivo, grande lateral esquerdo,enre ouros, como Ribamar, goleraço que foi pra seleção.

Ele ia aos jogos e ficava no frasqueirão, local onde a torcida do ABC costumava ficar, mas Ranilson não falava, nen vibrava, só via o jogo e a gente não sabia pra quem ele torcia.

Um dia soube-se que estava se engraçando com um time de subúrbio, o Força e Luz. Pra ele era o máximo porque como diretor podia se candidatar a presidência da Federação, mas como técnico era um aperreio.

Um dia foi jogar contra o América, a tarde, no Juvenal Lamartine. Casa cheia. Torcedor mesmo do Força, uma meia dúzia de gato pingado, o resto era vermelho e branco contrastando com as cores amarela e preta do Força.

Ranilson passou a noite acordado pensando no primeiro grande clássico, pra ele, e botou o time em campo. Jgo nervoso, mas numa bobeira do goleiro do América, Zezinho fez o primeiro gol da partida e os americanos ficaram putos com esse gol que acordou Ranilson que estava cochilando na bancada do time. Nem viu o gol.

Ouviu o grito de gol bem baixinho e por isso ficou irritado com o juiz de nome Picado, que queria anular  gol achando que o gol fora de impedimento.

Nessa tarde o Força deu um show de bola que ninguém entendeu. Disseram que foi uma água que os americanos tomaram, levada por um argentino disfarçado de preto, dando a entender que era da Federação.

O Força saiu de campo abraçado com seus gatos pingados e os americanos reclamando com o técnico que veio de Recife. Na segunda feira a estrela era o baixinho Ranilson, entrevistado em todas as rádios e jornais. Tinha um tal de A Republica que botou a foto de Ranilson maior do que ele. Foi a glória.

Ia haver um jogo no domingo seguinte contra o Potiguar, de Mossoró, que veio com o time reserva e tomou uma lapada de 4 a zero. O Força só tinha 13 jogadores profissionais e o salário deles, reunidos, era um pouquinho maior do que o salário de Saquinho, do América, não dava pra contratar mais ninguém, mas mesmo assim tinha um técnico campeão e ousado.

O América, depois de algumas derrotas, pensou em trocar o técnico pernambucano por Ranilson, o cochilador, que, com a vitória em cima dos americanos ganhou fama e quase não perdia uma partida. Não tinha contrato  com o Força, mas foi esse timinho que o projetou para a fama e deixá-lo era sacanagem, ingratidão, trairagem. Ficou no Força mesmo e chegou a final do campeonato.

Na partida contra o ABC, estádio lotado,o frasqueirão saindo pelo ladrão e Ranilson cochilando no banco de reservas. Deram um suco de laranja pra ele e ele cochilou quando Cocó fez um golaço cabeça. O barulho intenso da torcida acordou o baixinho que se levantou vibrando pensando que o gol era de Zezinho, do seu time.

Perdeu por 1 a zero. Placar justo que aumentou mais ainda o prestígio do técnico, que dizia sempre, “- Ser vice não é fracasso. Veja o Vasco, do Rio”.

Ranilson morava com a família,  nas Quintas, numa casa que comprou com o dinheiro do contrato que assinou com o Riachuelo e depois foi morar em Mossoró pra dirigir o Potiguar, de lá, mas o seu grande sonho era ser presidente da Federação. Deixou o futebol e seguiu a carreira com assessor de alguns técnicos.

Encontrei ele assistindo um jogo em Recife, Santa Cruz x Náutico que terminou empatado em zero a zero.

– No meu tempo não tinha disso. Meu time ou ganhava ou perdia. Empate é pra timeco.

Ai eu perguntei a ele: Ranilson quem foi seu grande inspirador?

-Vicente Feola.

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

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