VIRAMUNDO 34 –

Maria das Dores tinha esse nome porque sua mãe  sentiu muitas dores no parto dela, a quinta filha. Dorinha morava em Lagoa Pintada, no interior do Rio Grande do Norte e vivia cuidando do galinheiro e do sitiozinho da família, o dia todo. Cresceu no meio do mato, mas tinha uma virtude: gostava de cantar. Um dia o pastor Souza, da igreja, ouviu ela cantando e convidou pra fazer parte do coral. Ela ficou feliz e mostrou a qualidade do seu canto.

Aprendeu a cantar música gospel e a tocar violão. Tudo de graça até que o Pastor Souza sugeriu ela ir cantar na feira e arrecadar um dinheirinho, que não faz mal a ninguém. Empolgou-se e todo sábado de manhã Dorinha tava lá com seu violão que ganhou de presente de um primo que morava na Capital.

Esse primo, Betão, jogava no América de Natal e passou a ir a Lagoa Pintada todo sábado pra ver Dorinha cantar na feira e estreitar mais os laços de amizade. Começaram a namorar. Ela em Lagoa Pintada e ele em Natal.

Dorinha era uma morena de pernas grossas e corpo perfeito. Cabelos ondulados e gostava de usar shorte para realçar a beleza das pernas, mas o Pastor Souza não gostava nada disso e pediu para ela não usar mais esses shortinhos. Ela saiu da igreja e ficou cantando e tomando conta do galinheiro.

Engravidou do primo aos 20 anos e ai não parou mais. 12 filos, criados com muito sacrifício e o primo desistiu dela e foi morar em Alagoas pra jogar no ASA de Arapiraca. Separaram e Dorinha agora tinha uma penca de meninos, 7 homens e 5 mulheres,  pra tomar conta.

Um produtor musical gravou um disco com ela e foi um sucesso. Todas as rádios tocava “Dorinha do Amor”. Esse era o nome artístico. Tinha tudo a ver.

Alugou uma casa boa em Natal, cantava na noite e em festas de confraternização. Dava pra sobreviver. Conheceu numa dessas noitadas um gringo que levou-a para a Itália deixando os meninos aos cuidados da vó. Foram morar em Parma e mudou seu estilo musical. Cantava samba. Sucesso. De lá mandava dinheiro pra mãe e casou com Giorgio pra se naturalizar italiana. Deu certo e tiveram 1 filho.

Quando veio a Lagoa Pintada trouxe presentes pra todo mundo e casualmente encontrou-se com o primo que ficou meio enciumado vendo Dorinha cada vez mais linda e feliz. Não gostou do Giorgio, claro, nem podia, vendo o gringo numa boa com aquele mulherão.

Um dia ela cantou num programa de televisão na Itália, transmitido pela RAI,  ficou famosa e ganhou muito dinheiro. Investiu tudo o que ganhou em Natal. Comprou uma bela casa na Candelária pra alugar. Pouco tempo depois Giorgio morreu. A idade já pesava e Dorinha recebeu uma boa herança e a casa em Parma.

Vivia no mundo. Dos 12 filhos brasileiros o mais velho morreu em acidente de moto e ela passou uma temporada em Natal.

Com a morte do Giorgio ela resolveu não mais casar, mas namorava muito e gostava de futebol até arranjar uma filha com Maia, jogador do ABC que levou pra Itália. Mainha se deu bem e foi jogar num time patrocinado pela Parmalat, produtora de leite. Foi aé homenageado por uma escola de samba de Natal, desfilando em carro aberto pela avenida tendo a frente Dorinha puxando o samba enredo. Era a Glória.

Até hoje Dorinha encanta seus fãs por onde passa.

Encontrei-a lanchando no Midway e perguntei: – Quem é sua grande inspiração?

– Elza Soares.

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *