VIRAMUNDO 34 –
Wiliam Pedroza, o Vilinha das corridas, vivia atrás de carros para dar umas voltinhas nas ruas largas do interior. Parecia mais motocross de tanta poeira deixada ao largo do caminho. Incomodava todo mundo inclusive pelo barulho ensurdecedor. Ele tirava o escapamento pra isso mesmo.
Certo dia levaram ele pro Aeroporto, de tarde, com autorização do diretor e ele se esbaldou. Dava tudo na máquina e ainda fazia cavalo de pau. Os poucos amigos entravam em delírio. Vilinha empolgava e ai o tio Jeremias, fazendeiro em Riacho Fundo, levou ele pra São Paulo e inscreveu o amado sobrinho no kart. Show de bola. De tímido pessoalmente quando entrava na pista se exibia com toda segurança e até malandragem para impressionar.
Treino é treino, dizia ele para os amigos. Na disputa pra valer vocês vão ver como sou bom.
Não deu outra. Domingo às 10 da manhã começava seu primeiro teste no Kart. Ficou em décimo lugar.
– Vige, o negócio aqui é brabo.
– Tem que treinar muito Vilinha.
– Eu sei. Vou me reciclar. No kart o carro é baixinho e eu não estou acostumado com isso, mas vamos em gente.
Ele levava jeito e um olheiro de plantão viu nele, pinta de campeão e investiu no menino.
– Vamos mudar seu nome de Vilinha pra Vilenef, ok?
– Como?
– Vilenef, em homenagem a um grande corredor que chegou até ser campeão do mundo na Fórmula 1.
– Tá certo.
Vilenef não dormia, angustiado com a nova maneira de treinar em carro pequeno.
Aos poucos se acostumando ficou em terceiro lugar no campeonato daquele ano.
Pronto, agora posso tentar o kart na Europa, mais precisamente na Inglaterra. O tio vendeu umas cabeças de gado e bancou a estadia dele em Silverstone num circuito maior do que o de São Paulo.
Não sabia uma palavra em inglês e isso dificultou sua vida, mas foi se virando e com o tempo falava melhor do que o português.
Aprendeu a pilotar na chuva, com segurança e quando o tempo escurecia, nuvens pesadas, ele se animava. No seu primeiro ano em Silverstone Vilenef terminou o campeonato em sexto lugar e isso era bom.
Morava no alojamento e um dia conheceu Susi, uma loira escultural, de vestido vermelho e botas petas, cabelos soltos, ao vento que olhou pra ele com malícia. Ele não aguentou, se desconcertou e nesse dia mesmo o trino foi pro brejo.
Vilenef só voltou a ver essa estonteante mulher no dia da corrida. Ela estava com chapéu preto, blusa vermelha, short de jeans curtinho, mostrando um par de coxas brancas como as neves do Kilimanjaro.
Ville não conseguiu mais do que um décimo lugar e a cabeça virada pela loira inglesa.
Conseguiu leva-la para jantar e começou um namorinho sem muita paixão. Faltou traquejo e ele não se deu por vencido, e conseguiu leva-la em casa, num subúrbio moderno, nos arredores de Londres.
Voltaram a se encontrar na quarta-feira num Shopping center. Ela com a mesma exuberância e ele meio sem jeito, de mãos dadas e foram tomar sorvete.
Vilenef ficou uns meses com ela e desistiu de continuar o namorico porque ele, pra ficar, só casando, coisa que ele nem imaginava. Não podia dar certo.
– Na Inglaterra as meninas são mais duras do que no Brasil.
– É assim mesmo. Vá devagar e se dedique ao kart, logo, logo você vai pra Formula 1.
– É, vamos ver.
Vilenef veio ao Brasil, nas férias, conheceu Soninha e levou ela pra Silverstone e foram morar juntos; Ela perdida sem saber nem cozinhar, pediu pra voltar mas ele não deixou e contrataram uma moça diarista para ficar fazendo limpeza e algumas comidas pra eles.
Soninha engravidou e não quis ter o filho na Inglaterra.
– Somos brasileiros e nosso filho tem que nascer lá no Brasil, mais precisamente em São Paulo. Coisa chic.
Ela veio sozinha pra er o filho e Vilenef, no dia da aprova de classificação ficou sabendo que Vilenef Junior tinha nascido.
Perdeu a corrida. Saiu faltando 3 voltas pra terminar e se agoniou pra pegar o avião e dar assistência a Soninha.
Aqui ele conheceu Sena, no kartrodomo e ficaram amigos, recebendo conselhos para se cuidar mais na carreira de piloto.
Tentou ir para a Fórmula 1, mas não deu e voltou pra São Paulo ser mecânico de kart.
Encontrei Vilinha numa lanchonete na Avenida São João e perguntei: – Vile, quem você se inspirou pra ser piloto?
– Em Chico Serra.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.