VIRAMUNDO 44 –

Jesuíno Santana nasceu em Quixeramobim, interior do Ceará e o negócio dele era uma pequena bodega onde vendia de tudo, inclusive alimentos. Na calçada ele colocava sacos de arroz, feijão, farinha, milho, frutas e outras guloseimas.

Às vezes chegavam pessoas pedindo esmolas e ele não se continha e dava um pouco de alimento. Alguns até choravam de emoção.

– Seu Jesuíno se todo mundo chegar aqui é pedir esmola e o senhor der, vai acabar fechando a bodega.

– Isso eu sei. Eu conheço quem precisa.

– Como o senhor conhece?

– Pelo olhar. Os olhos não mentem.

– Explique melhor esse negócio de olhar.

– A pessoa necessitada tem o olhar triste, sem brilho, seco e falar baixo, com vergonha de pedir.

– Só isso?

– Isso é instinto, psicologia, vivência com ser humano.

Jesuíno era um homem prático, inteligente e de pouca fala.

Gordo, usava chapéu de palha, roupas brancas e chinelo de couro. Atendia a todos com um sorriso de satisfação.

Ele preparava cestas básicas em 3 tamanhos para atender as necessidades das pessoas.

Maria de Fátima, sua mulher ajudava e tomava conta do dinheiro.

– Dona Fátima seu Jesuíno da muita esmola?

– Não. Ele conversa com a pessoa, faz algumas perguntas, olha demoradamente nos olhos e então resolve dar ou não. É um mistério.

Nos dias de feira, aos sábados, vinha gente de todo canto e nesse dia os filhos ajudavam. É o único dia que ele não dava esmola.

– Por que o senhor não da esmola no sábado?

– Porque não da tempo de estudar o olhar delas.

– E qual é o melhor dia?

– Quarta-feira.

– Por que?

– Não sei. Instinto.

Seu Jesuíno abria a bodega as 6 da manhã e fechava as 5 da tarde, de segunda a sábado. O domingo era sagrado e por isso ele ia a nossa e passava o dia na rede, descansando e brincando com Valente, o cachorro de estimação.

Tempos depois ele aumentou o negócio e passou a ser o “mercadinho de ouro”.

– Por que esse nome seu Jesu?

– Para atrair riqueza. Todo munďo gosta de ouro, né?

– Não da a impressão que as coisas aqui são caras?

– Não vejo assim. Desde quando eu tinha a bodega que eu pensei nesse nome. E deu sorte. Ja penso em abrir um supermercado.

Ele conseguiu fechar um acordo com a Prefeitura para fornecer alimento para a merenda escolar e com isso abriu o Supermercado de Ouro e botou o filho mais velho pra tomar conta e ensinou como ler os olhos das pessoas.

Jesuíno criou a Feira da Fome, uma vez por mês, onde as pessoas humildes, inscritas no programa, iam buscar suas cestas básicas.

– Seu Jesu, é tudo de graça?

– Sim. Os outros comerciantes colaboram. É um projeto vitorioso para acabar. pm a fome. Primeiro de tudo, o mais importante é a comida.

– E o governo ajuda?

– Sim. Cede o lugar e não cobra imposto. Torço pra que um dia o governo distribua um pouco Dr dinheiro presse povo necessitado.

– Mas ja tem o Bolsa família.

– Mas é pouco.

Ficamos conversando no alpendre da casa e perguntei:

– Seu Jesuíno, em quem o se inspirou pra ser assim?

– Herbert de Souza _ Betinho.

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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