VIRAMUNDO 63 –
Todos os dias Salustiano de Morais, mais conhecido como Saul da macaxeira, ia pra escola Ataulfo Alves, de bicicleta e deixava ela amarrada com corrente e cadeado no portão lateral junto as outras, a manhã toda.
Percorria mais de seis quilômetros entre o sitio e a escola todos os dias, até aos sábados, destinados a recreação.
Domingos eram exclusivos para missas, ensaio no coral e trabalhos religiosos, onde conheceu Gildenia, dois anos mais nova e dona de uma voz lindíssima, igual a da Gal Costa de quem gostava de imitar.
Saul se orgulhava da namorada, principalmente porque ela sempre fazia os gostos dele. Um casal perfeito.
Saul trocou a bicicleta por uma cinquentinha, comprada com o dinheiro que ganhava a tarde no Armazém do tio Afonso.
Fazia as entregas na cinquentinha e ganhava um dinheirinho extra.
Muito econômico, com o tempo comprou uma casinha e foi viver com sua Gildenia na periferia da cidade.
– Saul vamos botar uma bodega aqui em casa pra vender mercadorias pros vizinhos?
Compraram o que precisavam no armazém do tio que deu uma força facilitando o pagamento e se deram bem.
Mas uma coisa mexeu com a cabeça de Saul: a politica.
Os Alves mandavam na cidade e com o apoio deles se elegeu vereador.
– Gil, tome conta da bodega que eu vou me preparar pra ser governador.
Dizia Saul brincando com a mulher.
Muito comunicativo e querido por todos chegou a presidência da Câmara Municipal e na eleição seguinte se elegeu prefeito.
Teve dois filhos, gêmeos, homens, que vieram estudar no Salesiano, em Natal.
Eram destacados como “filhos do prefeito Saul” e isso os envaidecia. Não faltava nada.
José de Souza, o motorista, gostava muito deles, meninos simples e educados, orgulho da mamãe Gildenia.
Morando em Mirassol , vizinho a Universidade Federal, Saul e Raul passavam o dia na Faculdade, estudando informática e administração.
– Saul, tô indo pra escola de música, aqui pertinho.
– Vá é uma coisa que você gosta.
Saul ia as terças e voltava as quintas feiras de Angicos onde era um bom prefeito.
Isso ajudou a chegar a Deputado Estadual sempre fazendo parte do ciclo politico da família Alves.
– Gil, minha veia, tô quase chegando a governador.
– É muito difícil ser governador. Baixe o facho.
– Eu nunca perdi uma eleição. Posso pelo menos tentar.
Aí ofereceram a ele uma oportunidade brilhante: senado.
Foram morar em Brasil e adoravam viajar de avião.
– Meu amor, eu não conheço o Paraiso mas não acredito que seja melhor do que o Senado e ainda viver por oito anos e podendo ser reeleito.
– Tenha cuidado pra não entrar em corrupção, viu? Confio muito em você.
– Não vou cair nessa. Ganho muito bem e com essa mordomia e cartaz, só sendo burro.
Ficou dezesseis anos em Brasilia, formou os filhos , saiu da politica e foi morar na fazenda perto de Angicos.
Encontrei Saul, Gildenia e uma netinha de oito anos comendo peixe frito com tapioca e cerveja no Ponto do Marujo em Guamaré e perguntei:
– Em quem o senhor se inspirou na sua vida política?
– Aluízio Alves.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.
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