VIRAMUNDO 88 –
Rafael Leonardo eh da Serra do Araripe e chegou de ideias mirabolantes. Aos poucos foi se tornando figurinha popular na cidade, mexia com todo mundo.
Alegre e inventivo criou um personagem pra poder expandir seu lado humorístico: COYOTE.
Com esse apelido Rafa contava piadas, cantava embolada sempre acompanhado do pandeiro e agradava a todos.⁵
Um dia chegou na sala de aula, um pouco atrasado e cumprimentou os colegas, assim:
“Bundinha, bundinha amigos” ao que a professora falou: – o que isso Rafinha?
“Nádegas, nadegas” e todo mundo riu.
A partir daí era Coyote em ação.
Inventou um estilo diferente de caminhar combos pés abertos, tipo 15 pras 3 e apressado.
Usava uma boina xadres e um bigodinho tipo Hitler e pintava os olhos de preto com a maquiagem da irmã.
Com o sol escaldante no interior de Pernambuco, Coyote incorporou a sombrinha vermelha pra se proteger e chamar atenção.
– Rafinha que maluquice eh essa?
– Eu agora vou mandar fazer uma calça 3/4 xadres pra combinar com a boina.
– Vai ficar esquisito.
– Eh isso que eu quero. Impactar.
Ele saia pelas ruas de Araripe rodando a sombrinha vermelha e fazendo gracinha.
As crias adoravam e as vezes muitas delas o seguiam e gritavam, em coro:
Coyote; coyote…. numa verdadeira procissão.
Um dia, na rua, viu Luquinha, uma menina bonita, olhos azuis, cabelos ruivos encaracolados e se apaixonou.
– Como eh seu nome?
– Rafael, mas pode me chamar de Rafa ou Coyote.
O jeito dele falar era engraçado.
Ele falava e ria, ao mesmo tempo.
Luquinha também gostava dele e provocava ciúmes as coleguinhas.
Chegou em Araripe um circo mambembe com o palhaço Tiririca.
– Pusque vc se veste assim?
– Pra chamar atenção
– Você trabalha aonde?
– Na rua.
– Como assim?
– Assim, no meu jeito de andar, fazendo umas gracinhas, balançando a sombrinha e contando piada.
– Ganha dinheiro com isso?
– Sim. Tiro a minha boina da cabeça e estendo pras pessoas e elas colocam um dinheirinho ali.
– Quer trabalhar no circo?
– Quero.
E assim Coyote entro na vida artística
Não ganha cache, mas algumas gorjetas e isso o fazia bem.
Foi morar com Luquinha e tiveram dois fukhos: um casal.
Os dois moravam na periferia da cidade e passavam certos apertos financeiros.
Os filhos; Lúcia e Rafinha estudavam na escola pública e iam muito bem até que Um dia o diretor artístico do Circo Garcia o contratou.
– Agora a vida melhorou. Vou comprar um jipe e sair por aí fazendo show.
Depois de muito tempo Rafinha/Coyote já estava morando em Recife fazendo shows na Avenida Guararapes no final da tarde e ganhando um bom dinheiro.
Coyote e Luquinha passaram a trabalhar juntos e aonde chegavam no jeep amarelo, era uma festa.
Foram embora pra São Paulo e Silvio Santos contratou Coyote a peso de ouro. Era a glória. Tudo O que pediu a Deus,
Ganhou muito dinheiro. Os filhos se formaram. Fátima em medicina e Lucinha em Direito , para satisfação da mãe que sempre quis fazer Direito, mas não podia.
Coyote se tornou um artista querido e muito popular.
– Agrade as crianças que os pais prestigiam você.
Ele falava sempre isso nas entrevistas.
Um dia encontrei Rafinha e Luquinha em Porto de Galinhos, almoçando na Peixada do Ze Lagosta e perguntei:
– Coyote em quem você se inspirou na sua vida artística?
– Charles Chaplin.
Jaécio Carlos – Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.